Em cena da primeira temporada de ‘The Crown’, o rei George VI (Jared Harris), pai da futura rainha Elizabeth (Claire Foy), diz a Philip (Matt Smith): “O seu trabalho é amá-la e protegê-la”.
Ao longo do casamento de 73 anos, o duque de Edimburgo oscilou entre a missão de dar suporte à esposa-monarca e o vício nos prazeres inconfessáveis da vida: festas, jogos, viagens a destinos exóticos, belas plebeias.
Falastrão, cometeu incontáveis deslizes por conta de sua visão estereotipada sobre estrangeiros, outras culturas e a classe trabalhadora. Certa vez, rebateu críticas ao governo feitas por operários desempregados: "Vocês reclamavam por não ter tempo para nada, agora têm".
A morte do príncipe, aos 99 anos, encerra a trajetória de um personagem tão fascinante quanto controverso, retratado sem piedade na aclamada série da Netflix.
Em vários episódios, o marido de Vossa Majestade é retratado como infiel e farrista, egocêntrico e esnobe. No fundo, se ressentia por estar sempre à sombra da poderosa Elizabeth.
O machismo indisfarçável foi ressaltado na quarta temporada. Vivido por Tobias Menzies no início da maturidade, Philip se incomoda com a ascensão de Margaret Thatcher como primeira-ministra do Reino Unido.
“Duas mulheres administrando o negócio, é tudo o que esse País não precisava”, diz, diante da própria Elizabeth. Apaixonada e conformista, a rainha perdoava as falhas e os excessos do marido politicamente incorreto.
Em outro momento da temporada, o príncipe se solidariza com a jovem Diana (Emma Corin), apavorada com a pressão de fazer parte da complexa família real. No fundo, os dois eram ‘estranhos no ninho’ do clã Windsor.
Apesar de nobre de nascença e amante do estilo de vida elitista, Philip desprezava o pedantismo da realeza britânica e recusava ser mero coadjuvante. “A senhora se casou com um espírito selvagem”, afirmou um interlocutor a Elizabeth no início de ‘The Crown’.
À sua maneira, ele foi leal à mulher, a quem apoiou em momentos dramáticos, como na crise de imagem da monarquia suscitada pela morte de Diana, em 1997. Mas Philip Mountbatten nunca aceitou bem o papel que lhe deram na história: o de marido submisso da rainha.