A contrariedade de Regina Duarte em uma entrevista ao vivo no programa CNN 360º teve repercussão bombástica. Muito já se escreveu e falou a respeito. Uma observação extra relaciona a similaridade do comportamento colérico da secretária especial de Cultura com atitudes padronizadas de duas das personagens mais populares que a atriz interpretou na TV.
Por um momento, no que a imprensa chamou de 'piti' e 'chilique', Regina parecia reviver a espalhafatosa Viúva Porcina de Roque Santeiro (1985-1986) e a irritadiça Maria do Carmo, a 'sucateira', de Rainha da Sucata (1990). Em comum, as duas tinham paciência curta e inegável dificuldade em lidar com contestações.
Esta também foi a impressão de quem viu a secretária fisicamente incomodada com as perguntas dos âncoras Reinaldo Gottino, Daniela Lima e Daniel Adjuto. Reação idêntica à do presidente Jair Bolsonaro sempre que é questionado pelos repórteres a respeito de problemas e polêmicas de seu governo.
Regina Duarte saiu de duradoura situação confortável — a de ídolo inatacável da televisão — para o epicentro nervoso da polarização político-ideológica do País. Seus valiosos préstimos à distração do telespectador ao longo de 55 anos nas novelas e séries não a pouparão de perguntas indigestas e desconfiança.
Alvo da classe artística insatisfeita e sob vigilância da mídia, a secretária de Cultura precisará mostrar o equilíbrio e a razoabilidade de outras personagens de sucesso vividas por ela na TV, como a socióloga feminista Maria Lúcia de Malu Mulher (1979-1980) e a médica humanista Helena de Páginas da Vida (2006-2007).