O quanto há de autêntico e confiável nos shows de realidade exibidos na TV? Será que as ‘novelas da vida real’ são tão ficcionais como a teledramaturgia?
Essa dúvida recorrente voltou à tona durante a transmissão do Emmy, o Oscar da TV americana, realizado na noite de domingo (22), em Los Angeles.
As irmãs Kim Kardashian e Kendall Jenner – estrelas do seriado Keeping Up with the Kardashians – surgiram no palco para apresentar o vencedor de Melhor Reality de Competição (categoria vencida por RuPaul’s Drag Race).
O texto lido por elas no teleprompter provocou risos irônicos na plateia e incontáveis chacotas nas redes sociais.
“Nossa família sabe como a televisão verdadeiramente atraente vem de pessoas reais sendo elas mesmas”, disse Kim.
“Contando suas histórias sem filtro e sem roteiro”, completou Kendall.
Difícil acreditar que o programa das Kardashians esteja baseado na ‘vida real’ do clã. Tudo parece encenado exageradamente na atração, onde pequenos dramas viram tempestades emocionais.
Diante das câmeras que as seguem por todo canto, elas travam uma guerra particular entre o espontâneo e o superficial.
O fato de fingirem não notar a presença da equipe de TV a poucos passos é, por si só, um comportamento ‘fake’.
Esse gênero ‘reality familiar’ – popularizado a partir do The Osbournes, sobre a rotina doméstica do roqueiro Ozzy Osbourne, lançado em 2002 na MTV americana – parece sempre pouco autêntico.
Há ali um trabalho hercúleo de produção, direção e edição. Afinal, o público não quer ver “pessoas reais”, como disseram as Kardashians, e sim pessoas espetaculosas em situações extremas.
Pensando bem, a gargalhada de escárnio contra as irmãs do canal E! no Emmy foi vingança oportunista dos atores da TV.
No fundo, a maioria deles inveja a fama planetária e a fortuna incalculável que as K. construíram a partir do conteúdo raso de um reality show milimetricamente calculado.