Novela é tudo mentira, mas a gente prefere acreditar para sofrer junto, se emocionar, ser surpreendido, rir.
Gostamos de nos identificar com personagens, sentimentos e situações. A gente se vê nas cenas folhetinescas.
Quando bem-feita, a teledramaturgia reflete a vida real e, ao mesmo tempo, oferece a fuga dessa realidade sufocante.
Fisgado, o telespectador embarca conscientemente numa fantasia a fim de amenizar as dores emocionais produzidas pela infelicidade rotineira.
Como é agradável passar uma hora vivendo a vida de outras pessoas... A ficção se revela terapêutica.
No ar há menos de um mês, a reprise de Por Amor chancela essa teoria: a novela de 1997-1998 é um sucesso surpreendente.
Já está com média de audiência maior do que a das últimas três antecessoras no Vale a Pena Ver de Novo.
Mestre em retratar a banalidade do cotidiano, o autor Manoel Carlos criou um enredo crível e envolvente.
Quando Helena (Regina Duarte) sofre, o público sofre junto. Assim como exprime reações variadas com outros personagens.
Mais uma vez, Por Amor tira o noveleiro da letargia, mesmo todo mundo sabendo o que vai acontecer até o desfecho.
A previsibilidade não diminui a empatia de quem assiste. Acreditamos na mentira bem contada porque ela, de alguma maneira, nos faz bem.
Por Amor representa o tipo de novela que o brasileiro gosta – e do qual sente falta.
Na última década, poucas produções do gênero conseguiram tal façanha.
Faltou densidade e as necessárias camadas dramatúrgicas. Faltou a magia do faz-de-conta.