Terça-feira, 28 de agosto de 2018. William Bonner e Renata Vasconcellos recebem na bancada do ‘Jornal Nacional’ o então candidato do PSL à Presidência Jair Bolsonaro. Clima tenso.
Contestado a explicar a declaração de que, caso fosse empregador, não pagaria a uma mulher o mesmo salário de um homem em igual função, o ex-militar tenta virar o jogo contra os entrevistadores.
“Eu tô vendo aqui uma senhora e um senhor. Não sei ao certo, com toda certeza há uma diferença salarial aqui”, disse. “Parece que é muito bom (melhor) pra ele do que para senhora.”
Imediatamente, Renata o interrompeu. “O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu.”
Quinta-feira, 7 de janeiro de 2021. Jair Bolsonaro conversa com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada. O presidente está irritado com matérias negativas sobre seu governo exibidas quase diariamente no ‘JN’.
Deixando-se filmar por celulares, o chefe da Nação xinga William Bonner de “sem-vergonha” e “maior canalha”. Na tentativa de depreciá-lo, ele volta ao assunto dos rendimentos.
“Outra coisa, que vergonha, William Bonner, você defende tanto salário igual de homem e mulher, né? Por que a Renata ganha metade do que você ganha? Por que você não fala?”
Os apresentadores do ‘Jornal Nacional’ ignoraram os insultos e a provocação. A imprensa e as redes sociais repercutiram o desarranjo verbal do presidente, para quem a Globo é uma inimiga a ser combatida.
Indiscutivelmente, Bonner ganha mais do que Renata. Razão óbvia e compreensível. Ele é editor-chefe, responsável por todos os aspectos do telejornal e com canal direto com a direção da emissora.
O jornalista trabalha na Globo há 35 anos. Tornou-se efetivo no ‘JN’ em 1996. Três anos depois assumiu a chefia. Bonner conduz a linha editorial do ‘JN’, define pautas com a equipe, supervisiona material especial.
Renata atua como editora-executiva, responsável pelas chamadas que anunciam os destaques da edição do dia. Foi da GloboNews para a Globo em 2003 e estreou no principal telejornal da emissora há seis anos.
A diferença salarial entre os dois não tem nada a ver com gênero, capacidade ou política interna. Está baseada em tempo de casa e nas funções distintas, como se aplica na maioria das grandes empresas.
Mas, afinal, quando eles ganham? Ninguém da imprensa tem a informação oficial. O que se lê em matérias são suposições. Bonner receberia entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão por mês. Renata, de R$ 300 mil a R$ 500 mil.
No mesmo ataque junto a simpatizantes, Jair Bolsonaro sugeriu que o corte de verbas publicitárias federais aos veículos do Grupo Globo, ordenado por ele conforme promessa de campanha, teriam prejudicado o âncora.
“William Bonner, por que teu salário foi reduzido? Porque acabou a teta do governo”, disse. Baseada no aumento de custos desproporcional à margem pequena de lucro nos últimos anos, a reestruturação financeira na TV Globo produziu mudanças de contratos e renegociação de salários em todos os setores da emissora.