O ‘Big Brother Brasil’ já foi vencido por típicas heroínas da sobrevivência. Podemos citar a babá Cida (‘BBB4’), a auxiliar de enfermagem Mara (‘BBB6’) e a universitária Gleici (‘BBB18’) Elas foram, de alguma maneira e em algum período, enxergadas como vítimas dentro do jogo.
Houve comoção nacional pela história sofrida daquelas mulheres então pobres e simples — e também carismáticas e transparentes. Na avaliação da maioria dos votantes, as três tinham maior merecimento do prêmio em dinheiro.
Mas o público também deu a vitória a competidoras vistas como vilãs. Emilly (‘BBB17’) e Paula (‘BBB19’) foram criticadas pela imprensa que cobria o reality show por conta de brigas, xingamentos, fofocas, manipulação de votos, bullying contra adversários, chiliques e deslumbramento.
Apesar da revolta que provocaram em parte da audiência, elas se tornaram campeãs do programa com margem confortável de votos: 58% para Emilly e 61% para Paula. Contudo, as polêmicas dentro da casa cobraram um preço aqui fora. Ao saírem, as duas enfrentaram críticas e hostilidade, intensificando o tóxico estigma de ‘ex-BBB’.
Nesta 21ª edição do reality show mais amado e detestado da televisão brasileira, Karol Conká tem sido chamada de ‘a vilã das vilãs’. Os telespectadores se chocaram com declarações e atitudes da artista. Hoje, ela é vista como egocêntrica, presunçosa, praticante de assédio moral e sem empatia com os colegas de confinamento.
Teoricamente, a rapper apenas repetiu o que outros brothers e sisters fizeram em quase todas as temporadas do ‘BBB’. Antes dela, muitos também ofenderam, humilharam, ameaçaram. Na prática, Karol paga o preço da fama já existente e por uma imagem ‘perfeita’ preestabelecida.
Havia endeusamento midiático da Conká bem-sucedida, ativista antirracista, militante feminista, sempre sorridente e aparentemente acessível. Ao se expor diante das câmeras do ‘BBB’ e do olhar julgador do público, ela se revelou humanamente imperfeita como qualquer um de nós.
Suas falhas foram superdimensionadas por conta das circunstâncias impostas pelo programa e da alta expectativa em torno de sua participação. Karol Conká virou inimiga de Karol Conká. A desconstrução de sua persona pública e artística revelou uma mulher que o telespectador não conhecia. E não gostou de ver.
No caso de Emilly e Paula não houve tal decepção — e a consequente mistura de raiva excessiva com desejo de justiça/vingança, como no caso da rapper do ‘BBB21’ — porque eram desconhecidas, não sofreram com o peso da frustração coletiva em relação a uma imagem prévia.
A vilania de ambas cativou os BBBmaníacos assim como as malvadas dos folhetins seduzem os noveleiros. Naqueles anos (2017 e 2019), a ascensão do movimento contra o politicamente correto (que culminou na eleição de Jair Bolsonaro à Presidência) pode até ter beneficiado as duas sisters ‘do contra’. Dessa vez, Karol Conká decepcionou tão profundamente que, na avaliação geral, não é merecedora de perdão.
(Em tempo: Emilly Araújo e Paula von Sperling se tornaram influenciadoras de sucesso, especialmente no Instagram. Juntas, têm mais de 7 milhões de seguidores. Anunciam principalmente artigos de moda e beleza. Ainda são convidadas para programas de TV e a opinar em matérias jornalísticas sobre o ‘Big Brother Brasil’.)