Em uma de suas canções, Pablo Hasél afirma ser comunista como Marx, Lenin, Stalin, Neruda. Mais do que isso, o artista catalão de 33 anos se diz radicalmente contra a monarquia, regime vigente em seu país, a Espanha.
Inimigo da Coroa, ele defende nas músicas e em mensagens no Twitter a independência da comunidade autônoma da Catalunha. Chama o atual governo de “fascista”, membros da família real de “parasitas” e policiais de “matadores de imigrantes”.
Enquadrado na Lei de Segurança Pública espanhola pelo crime de apologia ao terrorismo e ofensa ao rei Filipe VI, a quem chamou de “mafioso de merda”, Hasél foi condenado a 9 meses de cadeia.
Desde o momento de sua detenção, na segunda-feira (15), uma onda de protestos tomou conta de cidades da Espanha. Se a intenção era calar o artista, o tiro saiu pela culatra: seu discurso raivoso ganhou eco internacional.
Telejornais das principais emissoras do planeta – inclusive no Brasil – noticiaram a reação popular que acusa a monarquia do clã Bourbon e o presidente do governo, Pedro Sánchez, de intolerância e censura.
Por mais que eventualmente Pablo Hasél exceda o limite da liberdade de expressão, a prisão do músico serve apenas para torná-lo mais popular e fortalecer suas posições. Justamente o que a cúpula da Espanha não quer.
A repercussão midiática mundo afora desse episódio reafirma a força do Twitter como principal plataforma on-line de atuação política e do rap como gênero perfeito para denunciar e confrontar o establishment.
E os grandes grupos de comunicação — tão atacados por todos os rappers em razão de seu poder de influência e a suposta manipulação da massa — viraram aliados de Hasél ao dar publicidade valiosa a ele e sua ideologia.
Ainda que a monarquia espanhola esteja enfraquecida por conta de escândalos, os poetas da rebeldia não vão derrubá-la facilmente. Mas o estrago na imagem está consolidado. A cobertura das TVs superdimensiona o discurso rebelde. Mais famoso e apoiado do que nunca, Pablo Hasél deve estar sorrindo atrás das grades.