Um balé de súditos em torno do casal real Afonso (Rômulo Estrela) e Amália (Marina Ruy Barbosa) deu um aspecto de Broadway à última sequência de ‘Deus Salve o Rei’, exibida na segunda-feira (30). A comemoração fictícia bem que poderia representar a alegria nos bastidores: após crises de elenco e audiência, a novela conseguiu se reabilitar na reta final.
O desfecho foi agradável de se assistir. O casamento dos mocinhos lembrou o glamour em torno da recente união do príncipe Harry e da ex-atriz Meghan Markle. Uma bela catedral foi criada por efeito especial e houve os inevitáveis gritos populares de ‘Deus salve o rei’ e ‘Deus salve a rainha’.
O ápice de emoção (e surpresa) aconteceu em duas cenas com Marco Nanini: o rei Augusto decidiu depor contra a filha Catarina (Bruna Marquezine) diante da iminente absolvição da vilã; depois da condenação, a visitou no cárcere para declarar seu amor de pai. Ela, filha de uma bruxa com um plebeu, agradeceu o bondoso monarca que a adotou pela privilegiada vida que teve como princesa. Um fio de humanidade numa personagem tomada por perversidade absoluta.
Outro destaque do episódio derradeiro foi o acelerado processo de envelhecimento e decomposição de Brice (Bia Arantes), depois de falhar na tentativa de salvar Catarina da forca. A feiticeira pediu perdão à filha enquanto era reduzida a cinzas. Um efeito digno de comparação com produções de Hollywood.
A melhor frase do capítulo marcou a despedida da jovem vilã, antes de cair morta no fundo do cadafalso: “Eu não me arrependo de nada. Faria tudo exatamente igual”, disse Catarina. Um desfecho coerente. Chega de malvados que, previsivelmente, se arrependem nos minutos finais.
A conclusão de ‘Deus Salve o Rei’ foi acima da média em relação ao término de novelas recentes da Globo. O capricho técnico – cenografia, iluminação, figurino e direção de arte – encheu os olhos do telespectador. Mesmo sem grandes surpresas, o roteiro correu fluido e viu-se o esplendor de um ‘grand finale’. Foi a coroação de longa superação.
Antes mesmo da estreia, o folhetim de época gerou estresse na Globo: logo no início das gravações, Renato Góes deixou o papel de Afonso, o protagonista masculino. O boato de briga entre ele e o diretor Fabrício Mamberti antecedeu a rejeição de parte do público.
Com excesso de tramas e personagens, e escassez de coloquialidade e humor, a novela causou estranheza. Os telespectadores que ligam a TV na hora do jantar para espairecer após um dia tenso se aborreceram com a falta de carisma da maioria dos personagens e as burocráticas discussões políticas entre reinos. Faltava romantismo explícito e dramas capazes de despertar empatia.
A intervenção da cúpula da emissora fez efeito: ‘Deus Salve o Rei’ ganhou ritmo, cores e tipos simpáticos. Virou aquilo que toda novela deve ser: uma odisseia pelo amor e um labirinto até a justiça.
A novela criada por Daniel Adjafre terminou com média de 25 pontos de audiência, quatro a menos do que a antecessora, ‘Pega Pega’. A substituta, ‘O Tempo Não Para’, de Mario Teixeira, que estreia esta noite, tem a missão de atrair de volta cerca de 800 mil telespectadores na Grande São Paulo, principal praça de aferição da Kantar Ibope – um desafio digno de guerreiros medievais.