Numa típica tarde quente no Rio, Vera Fischer caminha pelas ruas de um cemitério na zona sul da cidade sob forte chuva artificial. A cena faz parte do teaser (vídeo promocional) de 'Quase Alguém', longa que marca o retorno da atriz às telonas depois de quase 20 anos sem filmar.
Há enorme expectativa em torno dessa produção com roteiro de Sylvio Gonçalves e direção de Daniel Ghivelder. Ainda acontecerão filmagens no Brasil e em Lisboa. A estreia está prevista para maio de 2021.
O produtor Márcio Rosário conversou com o Terra a respeito da presença de Vera Fischer no projeto e dos bastidores.
Como surgiu a ideia de convidar Vera Fischer para o filme?
Quando o Daniel Ghivelder, idealizador e diretor do filme, me convidou para produzir, ao ler esse argumento lindo, visceral e especial, não veio na minha cabeça outra atriz que pudesse dar vida à personagem Gilda Borba. No texto, temos uma mulher moderna, mãe de família, atriz consagrada com uma carreira imensa em cinema, teatro e televisão, e que pagou um preço muito caro no passado e no presente por dizer a verdade nua e crua, sem medo de ser feliz. Acima de tudo, linda e independente, causando inveja no meio de trabalho e sendo sempre massacrada por um bando de jornalistas urubus que querem sangrar sua alma até a última gota. Não tinha como não pensar na Vera Fischer, uma atriz que tem um currículo sensacional e passou por tudo isso que relatei. Aliás, ainda passa.
Como o projeto foi desenvolvido?
O roteiro chegou nas minhas mãos três meses antes da última eleição para presidente. Havia o fantasma de que o cinema nacional iria acabar. Boatos terríveis contra a classe artística e, principalmente, ataques ao cinema nacional. Ficamos um pouco assustados, mas foi quando me lembrei que já passamos por isso na época do presidente Collor. Ele tinha ódio do cinema nacional e o nosso cinema sempre foi resistência. Quem sabe a receita, faz! Com ou sem dinheiro incentivado. Não nasci fazendo arte com dinheiro de leis de incentivo. Sempre fui à luta e consegui grandes parceiros culturais para realizar meus projetos. Foi com essa energia que fizemos as cinco diárias do teaser do filme com custo de 150 mil reais. Boa parte disso pago pelo diretor e o restante com parceiros culturais. Tivemos uma equipe de mais de 60 pessoas trabalhando mais de 12 horas por dia nas quatro semanas de pré- produção. Fizemos um teaser de 15 minutos que vai ser apresentado aos patrocinadores para que vejam a qualidade do nosso filme. Nesse teaser temos, além da Vera, os atores Rita Elmor, Edwin Luisi, Edu Moscovis, Adriana Garambone e Sonia Clara Ghivelder.
Vera Fischer tem fama de diva. Ela fez muitas exigências para aceitar o papel?
Se procurarmos no dicionário o termo ‘diva’, achamos: substantivo feminino, divindade feminina, deusa, aquela que serve como inspiração, mulher formosa, excessivamente bonita, beldade, atriz notável. Posso afirmar que Vera não apenas tem aura, assim como o talento, a sinceridade, a humildade e a generosidade que a fazem realmente uma grande diva. Nossa conversa para a aceitação do projeto foi simples e profissional. Vera sabe o que quer. Não fez nenhuma exigência especial.
No dia a dia da convivência no set, como ela se relacionou com a equipe?
Acho que o grande diferencial dos atores de qualidade, como a Vera, é entender que para se fazer um trabalho intenso, se não houver entrega de 110% ao personagem, não vale a pena, e o resultado acaba sendo falso. O público percebe. Ficamos quase 12 horas por dia para filmar, e o set foi mágico. A dedicação dela, o respeito que demonstrou pela equipe e o carinho com os outros atores foi algo fantástico. Nessa volta ao cinema, Vera Fischer está livre, leve e solta como uma bela águia que voa alto e sabe o que faz. Ela nos surpreendeu nos ensaios, nos bastidores e em cada take.
Recentemente, a imprensa divulgou suposto episódio de agressividade verbal de Vera contra uma assessora, em um hotel de São Paulo. Essa notícia repercutiu na equipe do filme?
Soube disso por sites e não acreditei. Se houve algo errado, não sei. Posso dizer que não tivemos nenhum incidente durante as filmagens. Muito pelo contrário, foi um casamento feliz. Poderia enumerar vários momentos lindos. Tivemos a chance de apresentar o teaser do filme no Festival de Vitória, onde Vera foi homenageada. Ela fotografou com centenas de fã e profissionais do cinema que estavam presentes. Sempre profissional, simpática, generosa. Foi ovacionada pelo público.
Você já trabalhou com vários astros de Hollywood. Com quais teve as melhores convivências?
Tive a chance de atuar com gente bacana como Robin Williams, John Travolta, Sylvester Stallone, Jason Statham, Arnold Schwarzenegger, Madonna, entre outros, e todos foram fantásticos. Estão no set para trabalhar.
Como produtor de TV e cinema, você já sofreu com ataques de estrelismo de atores brasileiros?
Por também ser ator, consigo olhar no fundo do olho do colega e fazer que entenda que não precisamos ser amigos. Quero apenas que ele respeite o set e a equipe. Em uma novela ou um filme, somos dezenas pessoas fazendo o melhor para o produto sair com a máxima qualidade e ninguém tem o direito de sabotar isso. Minhas piores experiências foram com atores brasileiros que pensam que suas vidas pessoais interessam mais que seus próprios personagens.
Com quais atores brasileiros você aprendeu a disciplina necessária para enfrentar a pressão psicológica e o cansaço em um set ou estúdio de TV?
Trabalhar com Lima Duarte, Antônio Abujamra, Laura Cardoso, Paulo Autran, Cida Moreira e agora Vera Fischer foram experiências inesquecíveis. Atores dispostos a se entregar aos personagens com verdade, de maneira visceral. Além disso, artistas generosos com seus companheiros de cena.
Tem alguma curiosidade que você pode contar sobre os bastidores de 'Quase Alguém'?
Temos no filme duas gerações de famílias de artistas trabalhando juntas pela primeira vez. A atriz Sonia Clara Ghivelder e o diretor Daniel Ghivelder, e o Gabriel Almeida, diretor de segunda unidade de filmagem, com sua mãe Vera Fischer.