Antes, o candidato com mais chance de vencer um reality show era aquele que vendia a imagem de ‘pobrinho, simplório e humilhado’. Assim foi justificada a vitória da babá Cida dos Santos (BBB4), da atendente de enfermagem Mara Viana (BBB6), do universitário Cézar Lima (BBB15) e da militante Gleici Damasceno (BBB18). Como resistir a alguém com perfil de mocinha ou herói de novela?
Mas, com o passar dos anos, e o maior conhecimento do público em relação à dinâmica do formato, participantes que flertaram com a vilania se destacaram a ponto de vencer a competição. Foram os casos de Marcelo Dourado (BBB10), Emily Araújo (BBB17) e Paula von Sperling (BBB19).
Esse mesmo fenômeno aconteceu em A Fazenda. Na maioria das edições, os ‘bonzinhos’ foram ofuscados e derrotados por famosos com personalidade polêmica e comportamento igualmente controverso. O exemplo mais recente é o campeão da 11a edição do reality rural da RecordTV.
O modelo Lucas Viana superou o favoritismo de Hariany Almeida – que ostentava aura de injustiçada por ter sido expulsa do BBB19 – mesmo sendo alvo de acusações graves, como impor uma relação abusiva a Hariany e praticar assédio ao forçar contato corporal enquanto ela dormia.
Sobre o peão e sua namorada no confinamento pairou também a desconfiança de protecionismo por parte da direção do programa. Uma roça entre os dois – que eliminaria um deles – foi cancelada sem explicação convincente. Parte do público protestou nas redes sociais por entender que o casal estaria sendo poupado pela emissora.
Lucas Viana já tinha um histórico delicado antes de entrar em A Fazenda. Em 2018, foi expulso do reality de namoro Are You The One? Brasil, da MTV, em razão de atitudes explosivas e briga física com outro competidor. Nada disso fez a maior parte dos telespectadores deixar de votar no ex-mister. Ele saiu do curral com 1,5 milhão de reais.
A Fazenda tem tradição em premiar bad boys. Para citar alguns: Dado Dolabella (1ª edição), Douglas Sampaio (8ª edição), Rafael Ilha (10ª edição). Todos suscitaram o maniqueísmo do público: ou era amados ou odiados. Ninguém ficava indiferente a eles.
Essa ascensão dos malvados nos reality shows remete ao sucesso dos antagonistas nas novelas. Faz tempo que a maioria dos fãs de folhetins acha mais divertido torcer pelo ‘lado negro da força’ do que por personagens excessivamente ingênuos, apáticos e politicamente corretos.
Diante do cansaço do gênero reality show na televisão brasileira, o público parece ter interesse crescente em participantes com atitude forte, sem fazer julgamento moral de possível conduta discutível e de declarações equivocadas. Na era do radicalismo e da polarização no País, quem é do contra rouba o protagonismo.