Neymar é, definitivamente, seu mais duro adversário dentro e fora de campo. Nenhuma canelada violenta de zagueiro gera dano comparável à autodestruição que o jogador impõe a ele próprio.
A acusação de ataque sexual contra uma funcionária da Nike provoca nova crise de imagem. Soma-se à sombra deixada pelo escândalo midiático da denúncia de estupro contra o atacante feita por Najila Trindade, em 2019.
Baseado em sua teoria psicanalítica, Sigmund Freud diria que Neymar se divide entre Eros, a pulsão de tendência à sobrevivência, e Tânato, o impulso de provocar a própria desgraça. Humanamente paradoxal.
O talento com os pés frequentemente é ofuscado pelas incongruências da cabeça. Neymar pisa na bola além do aceitável. Uma máquina de polêmicas. A turbulenta vida privada joga seu brilhantismo nos gravados para escanteio.
Ele se fez ícone de contradições. Virou militante contra o racismo e enfrenta acusação de homofobia. Doou milhões para o combate à covid-19 e participa de eventos com aglomeração. Diz ser vítima de inveja e perseguição e continua a ter atitudes imaturas.
O ‘menino Ney’ caminha para completar 30 anos. Acumulam-se expectativas e frustrações. Cobra-se dele o preço alto por fama, sucesso, fortuna - exigem vitórias e títulos. O troféu de melhor do mundo parece cada vez mais improvável.
Há um longo percurso entre ser ídolo e consagrar-se mito. Neymar avança, tropeça, recua, desvia, segue, cai... A imprensa e o público agradecem: manchetes negativas são como um gol. Sádicos, gostamos de testemunhar deuses imperfeitos se atirando do pedestal ao precipício.
Para Jacques Lacan, célebre psicanalista que viveu na Paris onde hoje Neymar tenta reinar, a loucura determina o limite da liberdade do homem. O camisa 10 da Seleção Brasileira vive nessa corda bamba entre o triunfo e o cartão vermelho, a graça e o desprezível, o aplauso e a vaia, ser exemplo e má referência.
Implacáveis, o tempo e a história vão defini-lo.