Em uma prova em grupo, Dayse Paparoto se mostra inquieta por ter sido excluída das principais tarefas. A competidora quer ajudar os dois colegas. Diante da insistência, um deles vira-se e diz: "Pega uma vassoura e varre o chão".
Esse foi, sem dúvida, o momento mais constrangedor da primeira temporada do MasterChef Profissionais, exibida originalmente em 2016 e reprisada agora na Band. Constrangimento para a jovem chef e também ao público avesso ao machismo estrutural da sociedade brasileira.
Dayse sofreu desde o início do talent show gastronômico. A insegurança e sua dificuldade em ir além da cozinha clássica foram interpretadas como fraqueza e falta de talento. Passou a ser explicitamente desprezada por vários colegas de competição. "Dayse não está à minha altura", disse um deles, resumindo o pensamento da maioria.
Fritada a todo momento, a cozinheira precisou de dose extra de resiliência para seguir em frente no programa. Em vários momentos, ela suscitou espanto de quem a criticava ao receber elogios dos jurados. Igualmente vítima de machismo no início da carreira na gastronomia, Paola Carosella incentivou Dayse. "Você tem mão de cozinheira", afirmou. "Tem um tempero bom. Acima do conceito vem o sabor."
Coincidentemente, ou não, outra competidora também desacreditada surpreendeu e se tornou campeã na atração. Maria Antonia Russi não tinha sequer o apoio da própria mãe para realizar o sonho de participar do MasterChef. Rotulada como inábil por outros competidores, superou o desdém alheio e venceu o MasterChef Amadores 2018.
As duas campeãs viraram símbolo de autossuperação e calaram machistas e arrogantes em geral. Está mais do que provado: a vingança é um prato que se come frio.