‘Laços de Família’ chega ao fim com média de 19 pontos. Na quarta-feira (31), atingiu recorde de 22.5 pontos. Em vários dias, teve mais público do que a trama das 18h30, ‘A Vida da Gente’. Vinte e dois anos depois da exibição original, a novela de Manoel Carlos ressalta o interesse dos telespectadores pelas novelas clássicas, com grandes conflitos românticos e pitadas de bom humor.
Antes, o ‘Vale a Pena Ver de Novo’ já havia surpreendido com os bons índices de ‘Êta Mundo Bom!’ (nada melhor do que uma comédia pastelão para aliviar o clima pesado da pandemia), ‘Avenida Brasil’ (fenômeno de mobilização nas redes sociais não superado desde 2012) e ‘Por Amor’ (a irresistível sofrência de personagens carismáticos).
Enquanto isso, a reta final de ‘Amor de Mãe’ passa quase despercebida, sem aquele frisson que era tão comum perto dos desfechos das novelas das 21h. O resultado no Ibope é razoável (média de 31 pontos), mas inferior ao da reprise de ‘Fina Estampa’ (33.6 pontos), colocada no ar às pressas em março de 2020 por conta da interrupção das gravações.
Há nítido saudosismo dos noveleiros em relação às produções antigas. Aqueles novelões conseguiam envolver mais, suscitavam enorme expectativa sobre o que aconteceria com os personagens. O desempenho positivo das reexibições prova que o brasileiro ainda gosta de consumir a teledramaturgia clássica, apesar da crescente oferta de outros formatos de ficção nos canais pagos e em serviços de streaming.
Acompanhar um folhetim pela segunda, terceira ou quarta vez — ‘Laços de Família’ foi vista no ‘Vale a Pena Ver de Novo’ em 2005 e no Canal Viva em 2016 — desperta lembranças agradáveis, capazes de entreter e servir de escapismo, ainda que se saiba de cor tudo o que vai acontecer no fim.
O novo chefão da Globo, Ricardo Waddington, quer oxigenar a teledramaturgia do canal. Pretende apostar em narrativas ousadas para surpreender. As novelas antigas ainda são bem avaliadas justamente porque, apesar do formato convencional, apresentavam temas fortes e atraentes.
Como resistir a uma disputa de mãe e filha pelo mesmo homem (‘Laços de Família’), ao drama de uma mãe que abre mão de um filho por outro (‘Por Amor’) e às peripécias de uma vilã com vida dupla que finge ser uma mulher acima de qualquer suspeita (‘Avenida Brasil’)? O público não se cansou das novelas — apenas não aceita novela monótona.