Russo, um ícone dos coadjuvantes que morrem quase esquecidos

Mais popular assistente de palco da Globo cultivou mágoa pela ingratidão da TV

28 jan 2017 - 18h54

A televisão revela-se ingrata. Ou se é uma estrela do primeiro time, com garantia de dignidade até o fim da carreira, ou corre-se o risco de desaparecer do vídeo e enfrentar o crepúsculo da vida de maneira inglória.

Foi o caso de Russo, o mais famoso assistente de palco da Globo. Antônio Pedro de Souza morreu no sábado (28), em decorrência de embolia pulmonar. Tinha 85 anos e sofria do Mal de Alzheimer.

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Russo nos bastidores de programa em homenagem a Chacrinha, em 2008
Russo nos bastidores de programa em homenagem a Chacrinha, em 2008
Foto: João Miguel Júnior/TV Globo / Divulgação

Estava afastado da TV desde 2014, quando foi dispensado pela emissora onde trabalhou por 46 anos. Ficou famoso ao lado de Chacrinha. Depois passou pelos programas de Xuxa, Faustão e Luciano Huck.

Ao tirá-lo de cena, a Globo garantiu uma renda mínima e o plano de saúde por um período. Russo queria mesmo era continuar nos estúdios a auxiliar os apresentadores, interagir com as plateias e fazer suas graças para as câmeras.

A aposentadoria compulsória o deixou deprimido. Surgiu em programas da concorrência para criticar a “ingratidão” da antiga casa. Sua emoção genuína acabou explorada na obsessão por audiência.

O declínio experimentado pelo icônico faz-tudo da Globo é emblemático e já vitimou dezenas, centenas de profissionais de TV.

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O glamour efêmero diante das câmeras não afiança nada além de alguns momentos de visibilidade e um afago no ego. Muitas vezes o orgulho de ser funcionário de um canal de TV acaba em frustração e mágoa.

Os bastidores da televisão funcionam como em qualquer outro grande setor empresarial: as pessoas podem ser descartadas – e rapidamente substituídas – a qualquer momento. Os laços de afeto são frágeis.

Basta elencar quanta gente talentosa com relevante contribuição ao veículo está hoje sem emprego. Alguns vivem de lembranças do passado glorioso; outros fazem o possível para esquecer o penoso status de celebridade a fim de se reinventar.

Vão-se as pessoas, fica a ilusão da TV.

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