A televisão revela-se ingrata. Ou se é uma estrela do primeiro time, com garantia de dignidade até o fim da carreira, ou corre-se o risco de desaparecer do vídeo e enfrentar o crepúsculo da vida de maneira inglória.
Foi o caso de Russo, o mais famoso assistente de palco da Globo. Antônio Pedro de Souza morreu no sábado (28), em decorrência de embolia pulmonar. Tinha 85 anos e sofria do Mal de Alzheimer.
Estava afastado da TV desde 2014, quando foi dispensado pela emissora onde trabalhou por 46 anos. Ficou famoso ao lado de Chacrinha. Depois passou pelos programas de Xuxa, Faustão e Luciano Huck.
Ao tirá-lo de cena, a Globo garantiu uma renda mínima e o plano de saúde por um período. Russo queria mesmo era continuar nos estúdios a auxiliar os apresentadores, interagir com as plateias e fazer suas graças para as câmeras.
A aposentadoria compulsória o deixou deprimido. Surgiu em programas da concorrência para criticar a “ingratidão” da antiga casa. Sua emoção genuína acabou explorada na obsessão por audiência.
O declínio experimentado pelo icônico faz-tudo da Globo é emblemático e já vitimou dezenas, centenas de profissionais de TV.
O glamour efêmero diante das câmeras não afiança nada além de alguns momentos de visibilidade e um afago no ego. Muitas vezes o orgulho de ser funcionário de um canal de TV acaba em frustração e mágoa.
Os bastidores da televisão funcionam como em qualquer outro grande setor empresarial: as pessoas podem ser descartadas – e rapidamente substituídas – a qualquer momento. Os laços de afeto são frágeis.
Basta elencar quanta gente talentosa com relevante contribuição ao veículo está hoje sem emprego. Alguns vivem de lembranças do passado glorioso; outros fazem o possível para esquecer o penoso status de celebridade a fim de se reinventar.
Vão-se as pessoas, fica a ilusão da TV.