No dia 3 de janeiro, Jair Bolsonaro concedeu a primeira entrevista de seu mandato ao SBT Brasil, gravada em seu gabinete, em Brasília. Falou, entre outros assuntos, da reforma da Previdência Social.
Na quinta, 10, Flávio Bolsonaro, que tem evitado os repórteres, surgiu no mesmo telejornal para se eximir de responsabilidade de qualquer suposta irregularidade cometida por seu ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz.
O próprio Queiroz, então homem mais procurado pelas emissoras de TV, escolheu também o principal jornalístico do canal paulista para se defender da acusação de movimentação atípica em sua conta bancária. A entrevista foi ao ar em 26 de dezembro.
Esses três ‘furos’ do jornalismo do SBT foram repercutidos pela imprensa em geral. Até a Globo, sempre atacada por Bolsonaro e seus filhos, se viu obrigada a aproveitar as imagens da concorrente e dar o crédito pela exclusividade do material.
Não há dúvida: o canal de Silvio Santos se tornou, extraoficialmente, a TV do clã mais poderoso do País. Os Bolsonaros contam com a simpatia do apresentador e empresário.
O icônico Homem do Baú sempre foi próximo de presidentes e outras figuras influentes da política. A começar pelo general João Figueiredo (1918-1999), de quem recebeu a concessão pública do SBT em 1981, durante o regime militar.
Silvio Santos controla o jornalismo de sua emissora com mãos de ferro. Nos bastidores, comenta-se uma ordem expressa passada por ele desde sempre: evitar polêmicas e conflitos com os líderes políticos da República, independentemente de partidos e ideologias.
O comunicador gosta de política. Em 1989, lançou-se à Presidência, mas teve a candidatura impugnada pelo TSE a menos de uma semana do primeiro turno, por conta de uma irregularidade burocrática de seu partido na ocasião, o nanico PMB, extinto no mesmo ano.
Em algumas ocasiões, o dono do SBT disse ter tentado chegar ao Palácio do Planalto motivado pela “vaidade”.
Durante a última campanha presidencial surgiram boatos de que Silvio Santos apoiava Bolsonaro. O apresentador não fez declaração oficial.
Em novembro, os dois se falaram ao telefone, diante das câmeras, no Teleton, campanha de arrecadação de dinheiro para o tratamento de pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
Ao vivo, Silvio Santos previu dois mandatos ao presidente recém-eleito. “Acho que nos próximos oito anos o senhor vai ficar no nosso governo.” Houve troca de elogios. “Sou um fã seu”, disse Bolsonaro.
Um mês depois, os dois se encontraram na mansão do apresentador, em São Paulo, num almoço em comemoração aos 88 anos do animador de auditório. A Globo registrou o encontro com imagens aéreas feitas pelo Globocop.
Com as exclusivas de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, o SBT tomou a dianteira da RecordTV.
A maior parte da mídia acreditava que o canal do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, é que teria acesso privilegiado à Presidência, por conta de seu apoio declarado a Bolsonaro e a união de ambos em torno das pautas defendidas por evangélicos e conservadores.
O jornalismo do SBT, antes pouco notado, agora está sob holofotes. Resta saber se vai aproveitar essa predileção dos Bolsonaros para crescer em relevância ou se será apenas um veículo chapa-branca.
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