Nenhuma surpresa ver o SBT flertar com o militarismo do presidente eleito Jair Bolsonaro ao colocar no ar uma vinheta com o slogan nacionalista ‘Brasil: Ame-o ou Deixe-o’, amplamente usado pelos militares durante a ditadura.
O dono e principal imagem do canal, Silvio Santos, sempre teve relação próxima com o poder desde aquele período em que o País esteve sob o controle das Forças Armadas.
O empresário ganhou a concessão da emissora em agosto de 1981, na presidência do general João Figueiredo (1918-1999), último militar no comando do Brasil nos 21 anos da ditadura. Até então, o sinal do canal 4 era da TV Tupi, que teve a concessão cassada pelo regime militar.
Em agosto do ano passado, o animador que começou a vida como camelô agradeceu, em tom de brincadeira, o apoio recebido por Figueiredo: “Sou muito grato a ele. Se não fosse ele, eu estava vendendo caneta na praça da Sé”.
Dona Dulce Figueiredo (1928-2011), esposa do presidente-general, era fã declarada de Silvio Santos e o teria ajudado a conquistar a concessão.
Antes de lançar a TVS em São Paulo, o comunicador carioca já havia vencido a concorrência para adquirir o Canal 11, do Rio de Janeiro, durante a gestão do general Ernesto Geisel (1907-1996).
Grato pelo apoio recebido de Figueiredo, Silvio criou o miniprograma dominical "A Semana do Presidente". Nada mais era do que um boletim para promover as atividades do comandante-em-chefe do País. Propaganda política disfarçada de jornalismo.
Esta semana, ao exibir a vinheta pseudopatriótica com o slogan ‘Brasil: Ame-o ou Deixe-o’, o dono do SBT deu um tiro no próprio pé. A frase ufanista, muito usada no auge da ditadura, era um recado (com inegável teor de ameaça) aos opositores do regime militar.
A reação foi estrondosamente negativa à emissora e a Silvio Santos. O que seria um afago ao ego do presidente eleito Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército que defende o nacionalismo, foi interpretado como uma ode ao radicalismo imposto pelo regime militar.
A imprensa e as redes sociais foram tomadas por matérias críticas ao vídeo e colaram no apresentador a imagem de bajulador apegado ao poder, conservador e apoiador da ditadura.
No Brasil atual, toda manifestação política de pessoa pública bem avaliada pode gerar variadas (e até equivocadas) interpretações. A dimensão é ainda maior e potencialmente mais danosa se a figura em questão for o apresentador mais popular da TV.
Atento, o SBT tirou a vinheta do ar rapidamente. Contudo, o estrago estava feito – e será difícil repará-lo.