Cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio a cada ano. Uma parcela relevante jamais sinaliza a intenção de tirar a própria vida. De repente, parentes e amigos são surpreendidos pela atitude radical e derradeira. Um choque difícil de ser assimilado.
Três meses após a morte do galã português Pedro Lima, pessoas próximas a ele ainda tentam entender a razão de aquele homem sempre alegre, apaixonado pela família, amante da natureza e realizado na profissão ter golpeado o próprio pescoço e saltado ao mar para dar fim a si mesmo.
"O seu sorriso dissimulava uma enorme depressão”, concluiu o jornalista Paulo Dentinho, primo do artista. Ex-atleta olímpico de natação e surfista, Pedro Lima exalava disposição física. Não aparentava estar próximo de completar 50 anos. Mas padecia da saúde mental havia vários anos. Em sigilo, fazia tratamento com um psiquiatra e tomava antidepressivos.
Nos bastidores da TV e na imprensa, ninguém imaginava que o ator estava em constante sofrimento emocional. A atriz Ana Varela, com quem Pedro Lima gravou algumas cenas em sua última novela, ‘Amar Demais’, ficou impactada pela morte do amigo porque a mãe dela também cometeu suicídio por conta de grave depressão.
"Por muito bem que uma pessoa te pareça, pode estar a esconder uma doença muito grave que altera toda a nossa percepção, como era o caso do Pedro”, disse em uma entrevista. “A depressão é uma doença silenciosa, escura. Muitas vezes não nos deixa chegar perto. E temos mesmo de ter este cuidado e perceber".
O ator Ricardo Carriço, que substituiu o amigo na novela, comentou sobre a ‘cegueira’ de todos que conviviam com o galã. “Só percebemos depois. Andamos até irritados conosco. Como é que não percebemos?”, desabafou. Esse sentimento de contestação e culpa é comum em quem vê um ente querido recorrer ao suicídio para dar fim a um martírio.
Pai de cinco filhos, Pedro Lima comentava com pessoas de confiança a respeito do medo de não conseguir manter o padrão de vida da família. Por conta da pandemia de covid-19, ele teve o salário na TV reduzido pela metade, perdeu alguns trabalhos de publicidade e havia feito dívidas para a construção de uma ampla casa, ainda inacabada.
Minutos antes de morrer, ele enviou algumas mensagens de celular: “Olhem pelos meus filhos”, “Cuidem deles por mim”, “Ajudem a minha família”. Paulo Dentinho relembrou a preocupação do primo famoso em cumprir o papel de provedor: “Tu dizias que não tinhas direito a falhar. Estavas frágil e muitos de nós não vimos".
Na imprensa e na literatura médica há incontáveis relatos de homens anônimos e conhecidos que sucumbiram à pressão interna para ser o pai perfeito, o marido ideal, o profissional bem-sucedido, o macho alpha admirado na sociedade. A sensação de fragilidade e fracasso, e o medo do impiedoso julgamento público, podem gerar ou agravar um quadro depressivo.