No rastro da mobilização global dos movimentos antirracistas, o ‘Big Brother Brasil 21’ terá 9 competidores pretos e pardos, quase metade do grupo. A escalação incomum na comparação com o elenco das edições anteriores acontece após o sucesso midiático e a ascensão política da campeã da vigésima edição, a médica Thelma Assis, transformada em digital influencer poderosa e ícone na luta contra o racismo estrutural no País.
Entre os representantes dos 56% da população brasileira com pele escura estão os rappers Karol Conká e Projota. Ambos aproveitam a visibilidade na mídia — já participaram inúmeras vezes de programas da Globo — para discursar contra a discriminação racial. A influenciadora Camilla de Lucas, o comediante Nego Di, a funkeira Pocah, o ator Lucas Penteado, a psicóloga e DJ Lumena, o professor João Luiz e o doutorando Gilberto completam a ‘turma da melanina’.
Em suas redes sociais, quase todos têm posts de campanhas como #VidasNegrasImportam. Resta saber se, na ebulição do ‘BBB’, onde o interesse individual pelo prêmio costuma prevalecer, eles se manterão unidos como em uma passeata antirracista, ou logo vão deixar de lado a solidariedade e o discurso politizado a fim de brigar contra quem for pela sobrevivência no jogo.
Entre eles, dois ‘brothers’ são, além de negros, também gays. Casado há pouco tempo com seu companheiro, João Luiz milita pela causa LGBT+ até entre seus alunos. Representa os homossexuais que dão a cara à tapa na linha de frente de combate à homofobia. Gilberto se mantém, por enquanto, uma incógnita. O material de divulgação da Globo revela que ele é mórmon e virou missionário após se descobrir gay. Sua igreja cristã acolhe homossexuais desde que não pratiquem a homossexualidade. Polêmica à vista. O economista será alvo de muita curiosidade dentro e fora da casa.
Paralelamente à disputa pelo R$ 1,5 milhão (mesmo valor desde 2010) haverá outro negro ligado ao reality show. O humorista Rhudson Victor está na equipe que faz a cobertura do ‘BBB’ nas redes sociais da Globo e no GloboPlay. Ele vai interagir com as ex-sisters Ana Clara e Vivian Amorim.
Na maioria das edições do ‘Big Brother’, houve um ou dois negros para, na avaliação geral de público e imprensa, ‘cumprir a cota do politicamente correto’. Essa inédita representatividade de pretos e pardos no programa não é acaso. Serve para atrair atenção extra da mídia, ampliar a mobilização on-line dos ‘bbbmaníacos’ e promover temas — o racismo, a valorização da cultura negra etc. — que estão mais em evidência do que nunca. Demorou, mas o reality show mais amado e odiado da televisão brasileira enfim se rendeu ao ‘black power’.