Cada vez mais letal no Brasil, o novo coronavírus produziu um fenômeno midiático: dar exposição a artistas não conhecidos nacionalmente. Vários geraram manchetes após terem sido contaminados — e alguns ganharam ainda mais visibilidade em razão da morte por covid-19. A tragédia os deixou em evidência por alguns dias.
A lúgubre fama póstuma deu a essas pessoas o espaço na TV e na mídia em geral que tanto buscaram em décadas de carreira. Foi o caso de Kleber Lopes. Apesar de ter personagem fixo em ‘A Praça é Nossa’, o comediante de 39 anos ainda não tinha alcançado o sucesso desejado. Muito menos a estabilidade financeira dos humoristas consagrados.
Ele trabalhou 18 anos no programa do SBT. Começou como dançarino, depois se tornou figurante e fez parte do elenco de apoio até conseguir quadro solo ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega. O personagem Rick Marcos garantia cachê, não um contrato fixo. Sem receber desde março de 2020 por conta da interrupção das gravações, se virava como freelancer em pequenas produções. Morreu em um hospital de Guarulhos, na Grande São Paulo, menos de 24 horas após ser atendido.
Quem também conseguiu projeção gigantesca somente após a morte por covid-19 foi Ygona Moura. Negra e trans, a influenciadora digital virou notícia com vídeos nos quais fazia deboche do risco da doença. As frases “Aglomerei com sucesso”, “Estava morrendo de saudade de aglomerar” e “Partiu aglomerar” despertaram revolta ao mesmo tempo em que viralizaram como memes.
Pouco depois, foi internada com problemas respiratórios. Chegou a postar foto usando máscara de oxigênio em um leito. No período em que ficou internada, Ygona enfrentou o tribunal da internet: comentários com críticas e sarcasmo inundaram suas redes sociais. A família pediu empatia e respeito. Os principais veículos on-line destacaram seu negacionismo e, em seguida, sua morte, aos 23 anos, na UTI do Hospital Tiradentes, na zona leste da capital paulista.
Ygona Moura não foi esquecida. No aplicativo de vídeos TikTok, vários usuários dublam suas frases polêmicas sobre a pandemia. Na última semana, alguns fãs recorreram ao app MyHeritage para aplicar animação em fotos da influencer, seguindo a trend (formato de conteúdo que fica em evidência por alguns dias) de ‘dar vida’ a pessoas mortas.
Nos bastidores do SBT e da RedeTV!, Luiz Carlos Ribeiro, o Rodela, colecionou inúmeros amigos. Estava sempre sorridente e disposto a conversar. Com mais de três décadas de carreira, baseou seu humor na careta inconfundível que produzia feiura engraçada. Nas fases sem trabalho na TV, ganhava uns trocados se apresentando na região da Praça da Sé, centro de São Paulo. A morte por covid-19, aos 66 anos, o fez ser homenageado em telejornais e programas populares.
O vírus que já matou mais de 275 mil brasileiros também colocou ponto final na vida dos comediantes Jotinha, Epaminondas Gustavo e Christina Rodrigues (do ‘Zorra’, da Globo). A morte do comediante americano Joseph Luna ganhou destaque nos quatros cantos do planeta. Conhecido como Joe El Cholo, ele gravava um documentário com doentes de covid-19 quando foi contaminado. Algumas comorbidades agravaram seu estado de saúde. Morreu aos 38 anos.