Expor despesas, dívidas e prejuízos de investimentos foi a saída encontrada por Stênio Garcia, às vésperas de completar 88 anos, para tentar sensibilizar a cúpula da Globo. O contrato do veterano ator com o canal não seria renovado e, a partir do final deste mês, ele teria severa redução de ganhos e poderia ficar sem o plano de saúde que cobre o dispendioso tratamento de doenças crônicas — suporte fundamental no caso de um tratamento de codiv-19.
Com 54 anos de atuação em TV, sendo 47 deles na Globo, o artista recorreu à mídia para divulgar sua situação delicada. No primeiro momento, a emissora da família Marinho não reverteu a decisão de dispensá-lo. Stênio acabou salvo pela autora Gloria Perez, com quem trabalhou em várias novelas de sucesso. Ela pediu que ator tenha seu vínculo mantido para que integre o elenco de uma produção agendada para 2021.
Após momentos dramáticos compartilhados na imprensa, quando praticamente se humilhou para não ficar desempregado e em situação de risco, Stênio Garcia — o eterno Bino de Carga Pesada, o inesquecível Corcoran de Que Rei Sou Eu?, o sábio tio Ali de O Clone — pode se tranquilizar, ao contrário de tantos outros artistas excluídos do quadro de funcionários da Globo. A mais rica e influente TV do País corta gastos para melhorar o balanço financeiro. Reduziu drasticamente o número de atores e atrizes exclusivos, que recebem salário mesmo quando não estão no ar.
Ao ser revelada, a realidade econômica instável de Stênio Garcia surpreendeu fãs, colegas de profissão e jornalistas. Imaginava-se que ele, por conta de sua bem-sucedida carreira, gozava de uma vida tranquila, com boa reserva de dinheiro. O ator revelou gastar a totalidade da aposentadoria de 5 mil reais em remédios, além de contribuir financeiramente com filhos e netos. A mulher dele, a atriz e advogada Marilene Saade, também tem problemas de saúde e é sua dependente. Para piorar o quadro, o artista perdeu um investimento de R$ 150 mil feito em imóveis na planta. Está na corda bamba, assim como milhões de brasileiros anônimos.
A superexposição voluntária de Stênio Garcia para conseguir ajuda comove, mas também deprime. Esse exemplo angustiante ajuda a desconstruir a imagem de vida perfeita dos famosos da TV. O público vê apenas o lado glamouroso. Por trás dos sorrisos e flashes há dores, preocupações, boletos, limitações, tristeza. Ele teve sorte de ser resgatado enquanto milhares de artistas estão, neste momento de crise econômica e pandemia global, sem perspectiva de trabalho e pagamento. Triste como um final infeliz de novela.
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