Morte não é 'furo', diz a ética jornalística. Ou seja, dar em primeira mão a notícia do falecimento de alguém famoso não deve ser visto como uma façanha.
Mas, na prática, todos os canais de TV se preparam para anunciar o mais rápido possível o falecimento de artista, esportista consagrado ou político proeminente.
Quando uma personalidade entra em risco iminente de morte, a redação se mobiliza para pesquisar imagens, fotos e dados biográficos para montar matérias.
Em razão do dinamismo exigido dos meios de comunicação, o jornalismo ‘antecipa’ o fim da vida do personagem em questão para que tudo fique pronto e seja imediatamente exibido (publicado on-line ou liberado para impressão) após a confirmação do óbito.
Produzir esse material é uma tarefa angustiante. Impossível não se entristecer ao preparar homenagens a alguém ainda vivo. Desagradável verbalizar no passado sobre uma pessoa cujo coração ainda bate.
Nas últimas semanas, esse ritual aconteceu em relação ao humorista Paulo Gustavo, morto por covid-19, aos 42 anos, depois de 53 dias no hospital; ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas, de 41 anos, vítima de câncer, ao fim de duas semanas de internação; e à atriz Eva Wilma, que morreu aos 87 anos, de câncer no ovário, após 1 mês hospitalizada.
Assim que os médicos revelaram a gravidade ou irreversibilidade do quadro clínico de cada um deles, os principais veículos — jornais diários, revistas semanais de informação, grandes portais de notícias, telejornais das redes de TV, emissoras de rádio — definiram jornalistas e editores para a ‘missão’ de preparar o conteúdo obituário.
Assim, o máximo de informações chega rapidamente ao telespectador, usuário de internet, leitor de impressos ou ouvinte. Esse mesmo adiantamento de material acontece em relação a grandes ídolos e personalidades de idade avançada, mesmo que estejam saudáveis. Por precaução, tudo fica pronto ‘na gaveta’ (jargão jornalístico para matéria ‘fria’ que será usada na hora adequada).