Esqueça a Xuxa infantilizada que nunca opinava sobre temas relevantes. Aquela apresentadora falsamente neutra morreu. No lugar, há uma artista consciente e corajosa. Em 2012, ela provocou surpresa e comoção ao revelar em depoimento ao Fantástico ter sido vítima de abuso sexual na infância. Desde então, passou a compartilhar suas histórias e verdades.
Novo posicionamento aconteceu ao ser entrevistada por Veja Rio. Na nova edição da revista, Xuxa critica a falta de empatia entre as mulheres. A repórter Melina Dalboni perguntou a ela se é feminista. "Não sou militante, ativista, não vou às ruas, mas acho a luta do feminismo de extrema importância", disse.
"A mulher está longe de ocupar um lugar de igualdade e tem muito caminho pela frente. Por outro lado, também acho que as primeiras a se desvalorizar são elas mesmas, coisa que eu não vejo acontecer com os homens."
A jornalista quis saber mais. Xuxa não recuou. "Eu fui muito criticada pelas minhas rugas — por mulheres. Eu fui muito criticada pela minha careca — por mulheres. Lá atrás, fui criticada pelas minhas roupas, também por mulheres. Ou seja, nós, mulheres, queremos, exigimos respeito, mas somos as primeiras a desvalorizar, a desrespeitar a nós mesmas. É surreal você se meter, criticar o outro por sua imagem."
Recentemente, Xuxa gerou manchetes por dois outros posicionamentos. Em maio, a apresentadora manifestou no Instagram apoio ao movimento #Somos70Porcento, de oposição ao presidente Jair Bolsonaro.
No mês seguinte, a artista apareceu na série documental Em Nome de Deus, da Globoplay, a respeito dos crimes sexuais cometidos pelo médium João de Deus. "É um monstro, é um fato", afirmou. Xuxa procurou o líder espiritual em busca de ajuda para a mãe dela, portadora do Mal de Parkinson. Dona Alda Meneghel morreu em 2018.
Dias atrás, a apresentadora teve mais uma atitude surpreendente: incentivou o público a assistir ao filme Amor Estranho Amor, de 1982, no qual ela aparece em cena de sexo com um garoto. Após conquistar fama como estrela de programa infantil da Globo, ela acionou a Justiça várias vezes para barrar a exibição do longa do cineasta Walter Hugo Khouri. Na visão da imprensa e do público, era uma tentativa de renegar o passado por sentir vergonha daquele trabalho.
"Quem não viu, veja o filme. É um filme muito legal. Aquilo lá é uma ficção, não é a minha biografia e, no mundo que a gente está vivendo, as pessoas querem me atingir falando sobre o filme. E não me atinge, porque aquilo lá é uma ficção", esclareceu ao conversar com Otaviano Costa no programa de internet OtaLab.
Aos 57 anos, Xuxa se tornou uma das raras mulheres famosas a surgir em público de cara limpa (sem maquiagem nem filtro exagerado). Assume as marcas do tempo em seu rosto, assim como fala abertamente do lado nada glamouroso do envelhecimento. Virou referência de autenticidade por falar o que pensa e encarar de frente os próprios dramas. Suas palavras merecem ser ouvidas com atenção.