Teoricamente, um eleitor de Jair Bolsonaro não deveria assistir à Globo, arqui-inimiga do presidente, muito menos participar de um programa do canal. Na prática, a coerência ideológica não é praticada por muita gente que apertou 17 na urna eletrônica.
No ‘Big Brother Brasil 22’ há alguns apoiadores do ‘capitão’. A tradicional investigação de posts antigos de cada competidor revelou mensagens de adesão ao que Bolsonaro pensa e prega.
Dos 20 jogadores, pelo menos 8 foram identificados como bolsonaristas e instantaneamente cancelados. Estão com impopularidade alta na web antes mesmo da estreia.
A lista desses brothers e sisters rotulados como ‘bolsominions’ circula por incontáveis perfis no Facebook e Instagram em uma campanha para eliminá-los logo nos primeiros Paredões.
Era previsível: a polarização política não ficaria fora do principal reality show da Globo em um ano eleitoral. A intenção de voto de cada participante se tornou informação essencial para determinar torcida a favor ou contra.
No ‘Big 21’, Sarah defendeu e elogiou Bolsonaro no momento em que era uma das favoritas ao prêmio. Depois disso, ganhou ‘haters’ e foi eliminada. Rodolffo também virou alvo de boicote por ter declarado voto no atual presidente e ficou longe da final.
Já Juliette passou a ser defendida pela esquerda e o público progressista ao descobrirem que fez campanha contra Bolsonaro em 2018 e após falar bem da ex-presidente Dilma Rousseff. Acabou campeã.
Criticado desde sempre por sua futilidade, o ‘Big Brother Brasil’ se tornou um espelho da sociedade. Comportamentos e declarações na casa geram discussões relevantes aqui fora, como a respeito de racismo estrutural e masculinidade tóxica.
A nova edição nem começou e já podemos debater sobre tolerância e o desafio de conviver com divergências em um País chafurdado na guerra entre direita, esquerda e Terceira Via.
O ‘BBB22’ nasce contaminado pela corrida ao Palácio do Planalto a ponto de ser usado eleitoralmente por candidatos e campanhas, a exemplo do que fez o governador e presidenciável João Doria (PSDB) ao criar um banner para redes sociais como se fosse participante do programa.
Tomara que a militância no confinamento e entre telespectadores não comprometa o entretenimento. O reality show deveria ser um escapismo da realidade hostil, e não potencializador do ódio que nos envenena há anos por conta da política.