Na terça-feira (7), na cerimônia de assinatura dos contratos de concessão do 5G, Jair Bolsonaro aproveitou a presença no Palácio do Planalto da rainha e das princesas da Festa da Uva de Caxias do Sul (RS) para provocar a Globo.
“Quero lembrar uma coisa sobre a Festa da Uva. Foi nos idos de 1972 que o primeiro sinal de tevê colorida se fez presente no Brasil. Governo Emílio Garrastazu Médici”, disse, orgulhoso.
“Ampla cobertura... TV Globo, parabéns. TV Globo, sempre ao lado dos militares, de 64 a 85. Parabéns, TV Globo, parabéns”, debochou.
Aos fatos.
A primeira emissora de televisão no Brasil foi a Tupi, inaugurada em setembro de 1950, com imagem em preto e branco. O sinal em cores realmente surgiu apenas em 1972.
Em 19 de fevereiro daquele ano, a TV Difusora de Porto Alegre se tornou o primeiro canal a transmitir em cores. O evento-teste foi justamente a Festa da Uva de Caxias do Sul.
O presidente Médici estava presente como convidado de honra naquele momento histórico das telecomunicações no País. O sucesso imediato das imagens coloridas popularizou ainda mais a TV entre os brasileiros.
Quando cita “de 64 a 85”, Bolsonaro se refere às datas de início e do fim do regime militar ou, se o leitor preferir, da ditadura militar. A Globo entrou no ar em abril de 1965, com o Brasil já sob o comando dos generais após a derrubada do presidente João Goulart, o Jango.
Ao longo de 20 anos, a Globo manteve boa relação com os militares que ocuparam o poder. O presidente Médici era declaradamente um telespectador assíduo do ‘Jornal Nacional’.
Em 7 de outubro de 1984, o fundador da TV Globo, Roberto Marinho, assinou um editorial no jornal ‘O Globo’ no qual admitiu ter participado e apoiado a “revolução de 1964”. O presidente na época da publicação era o general João Figueiredo, amigo de Marinho. Bolsonaro sempre usa essas informações contra a emissora ‘inimiga’.
Por exemplo, em 28 de agosto de 2018, ao participar da sabatina ao vivo com candidatos à Presidência na bancada do ‘Jornal Nacional’, ele irritou o âncora William Bonner ao repetir trechos do texto escrito por Roberto Marinho em defesa do regime militar.
O jornalista e empresário morreu em 6 de agosto de 2003. Dez anos depois, em 31 de agosto de 2013, sob o impacto das manifestações de rua com o coro “Abaixo a Rede a Globo”, as Organizações Globo revisaram sua história.
Naquele sábado, quem abriu ‘O Globo’ encontrou um texto com o título “Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”. Um trecho: “A consciência não é de hoje, vem de discussões internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz da História, o apoio se constituiu um equívoco”.