Na França, quando o assunto é a preservação do meio ambiente e de populações nativas, progressistas e conservadores costumam concordar em muitas questões.
O CNews, canal de linha editorial de direita, com uma das maiores audiências do País, exibiu matéria e publicou texto em seu portal a respeito de medidas de Jair Bolsonaro em relação a comunidades indígenas.
A matéria destacou, em tom crítico, a concessão da medalha de mérito indigenista ao presidente. A honraria foi iniciativa do ministro da Justiça, Anderson Torres.
“No entanto, a gestão de Bolsonaro tem sido marcada por medidas bastante desfavoráveis à preservação das comunidades indígenas e seus territórios”, afirmou o CNews.
“No início de 2020, o presidente de extrema-direita se mostrou a favor de um projeto de lei que autoriza a mineração e a exploração agrícola em territórios reservados às populações indígenas”, completou, citando atuação de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
A reportagem ressaltou que o presidente disse, no início do mandato, que não daria “nem mais um centímetro” aos territórios indígenas, “já parcialmente destruídos pelo desmatamento ilegal”. Destacou ainda a declaração dele de que pretendia “dar armas aos fazendeiros”.
“Hoje, o conflito na Ucrânia representa uma oportunidade, segundo Jair Bolsonaro, de aprovar seu projeto de lei de mineração na Amazônia, devido à queda nas exportações russas de fertilizantes”, explicou a emissora preferida dos franceses tradicionalistas.
A equipe da TV no Brasil entrevistou o líder da tribo paulista Mbya Guarani, David Fernandes. Ele reclamou da falta de consulta a respeito de projetos comerciais em áreas ocupadas ou reivindicadas pelos índios. “Nossa comunidade tem que ser ouvida e respeitada”, disse à câmera.
A prestigiada revista Paris Match também deu espaço à polêmica da medalha. Informou que a oposição considerou a homenagem “chocante” e “absurda”. A publicação ouviu o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ). Ele afirmou que o governo teve a “audácia de se conceder medalhas de mérito por todo o mal que fez”.
A antipatia da imprensa francesa com Jair Bolsonaro reflete o tratamento ríspido do presidente da França, Emmanuel Macron, ao chefe do Executivo brasileiro. Aliás, a aversão é mútua.