Durante os primeiros 10 minutos da entrevista de Jair Bolsonaro no 'Jornal Nacional' houve um embate direto entre o presidente e o âncora e editor-chefe William Bonner.
O jornalista insistiu em ouvir do candidato à reeleição o compromisso de respeitar o resultado da eleição. Conseguiu a verbalização de Bolsonaro contra a possibilidade de golpe. Um ponto valioso para o 'JN'.
A tensão era tangível no estúdio e na tela da TV, mas o presidente se manteve calmo. Mesmo quando protestou, o fez no protocolo das discussões.
Renata precisou tomar a iniciativa de lançar outro tema, o gerenciamento da pandemia, para iniciar sua participação na sabatina.
Tranquila, ela o questionou insistentemente a respeito do comportamento insensível com as vítimas do coronavírus. Bolsonaro se safou de responder, por exemplo, sobre a imitação de um doente com falta de ar.
O clima ficou mais ameno quanto se falou de economia e da preservação da Amazônia. Com sua caneta Bic entre os dedos, o presidente foi contundente ao rebater as acusações de ser um "destruidor de florestas".
Com dados na ponta da língua, ele defendeu o agronegócio e até concordou quando Bonner disse que o Brasil precisa mudar sua imagem no exterior em relação à política ambiental.
Uma das frases mais fortes de Bolsonaro surgiu quando o jornalista o contestou por ter se elegido criticando a velha política e, pouco depois, se aliar ao Centrão.
"Você está me obrigando a ser um ditador", disse o presidente, para surpresa do âncora. Ele justificou as criticadas negociações com os partidos dominantes do Congresso como única maneira de conseguir governar.
"Eu não estimulei nada, candidato", rebateu o jornalista, enfático. Sem se alterar, Bolsonaro insistiu na declaração de efeito contra Bonner.
O único momento de temperatura mais elevada aconteceu quando o apresentador afirmou ter havido "escândalo no Ministério da Educação", referindo-se ao caso dos pastores lobistas.
Após rechaçar a assertiva, o presidente voltou ao tom pacífico.
Ao ser informado de que tinha 1 minuto para a manifestação final, Bolsonaro tentou descontrair. "Eu queria ficar algumas horas com vocês aí."
Os entrevistadores poderiam ter reservado mais tempo para abordar questões sobre a economia e as propostas do plano de reeleição em comparação com as promessas do candidato em 2018.
No geral, foi uma sabatina morna, sem a guerra de palavras prevista por quem se lembra do confronto de 4 anos atrás, quando Bolsonaro teve uma performance considerada agressiva.
Na comparação com uma luta de boxe, nenhum dos lados conseguiu nocautear o oponente. Houve empate técnico.