A presença de William Bonner na Praça dos Três Poderes em dia de posse presidencial já é uma tradição.
No próximo dia 1º, lá estará mais uma vez o âncora e editor-chefe do ‘Jornal Nacional’ com o Palácio do Planalto ao fundo.
Há 20 anos, no início do 1º mandato do líder do PT, o apresentador caprichou no texto na escalada do telejornal.
“A Capital Federal consagra o novo presidente de 170 milhões de cidadãos, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva...”
Agora, somos 214 milhões. O ‘JN’ perdeu parte relevante de audiência, mas ainda é o programa mais influente da televisão brasileira.
Ao longo dessas duas décadas, Bonner foi eleito inimigo número 1 de Lula pela cobertura da Operação Lava Jato e do julgamento que culminou na prisão do então ex-presidente.
O petista chegou a desafiá-lo a um duelo ao vivo na bancada do telejornal. Depois, disse esperar que o jornalista pedisse desculpas a ele na TV.
Tudo mudou em 25 de agosto deste ano, na sabatina do candidato de esquerda. “O senhor não deve nada à Justiça”, anunciou o âncora logo na introdução da entrevista.
Nenhum roteirista de série política ousaria imaginar tal frase saindo da boca dele. Dali em diante, Lula passou a lançar elogios ao antigo desafeto.
“Adorei o comportamento do Bonner”, afirmou o petista, mais de uma vez. Jair Bolsonaro, que dividia com o rival o horror pelo canal da família Marinho e a hostilidade contra o jornalista, ficou inconformado.
“... agora é a terra dele, né? O terreno do Lula é a Globo.”
No dia 30 de outubro, após o resultado da eleição, Bonner se permitiu elogiar o presidente eleito na cobertura da festa vermelha nas ruas de São Paulo.
“Lula vem saltitando. Lula sendo Lula. É a forma como se comporta em multidões. Ele tem sempre o abraço, o afago, é o que ele gosta de fazer, sempre foi assim.”
Só faltou chamá-lo de companheiro e fazer o ‘L’ para a câmera.
É nesse clima leve que William Bonner chega a Brasília para entrar ao vivo no ‘Jornal Nacional’ de sábado (31) e comandar a cobertura da posse no domingo (1º).
A Globo deixou de ser demonizada pelo entorno do novo presidente. Alguns repórteres e comentaristas do canal, a exemplo de Guilherme Balza e Miriam Leitão, conseguiram acesso privilegiado à cúpula do próximo governo.
Mas, apesar da boa relação, há certo nervosismo nos bastidores da emissora pelo risco de atos hostis contra suas equipes em Brasília.
Teme-se infiltrados na multidão. Por isso, a Globo montou, discretamente, um esquema especial de segurança para garantir a retaguarda de seus principais profissionais.
Além de Bonner, outros âncoras estarão na Capital. Entre eles, Renata Lo Prete, do ‘Jornal da Globo’, e Julia Duailibi, do ‘GloboNews Mais’.
Após 4 anos tensos sob a verborragia às vezes agressiva, às vezes debochada de Bolsonaro, a Globo se fortaleceu com a renovação de sua concessão por mais 15 anos.
Por enquanto, a TV líder no Ibope faz uma cobertura positiva da volta de Lula à Presidência. Até deu espaço valioso à primeira-dama, Janja da Silva, no ‘Fantástico’ e em telejornais.
Resta descobrir até quando vai esse armistício.