Foi uma segunda-feira de ampla e valiosa visibilidade na TV a Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente da República com 55% dos votos em campanha baseada nas redes sociais e no WhatsApp.
O futuro ocupante do Palácio do Planalto concedeu entrevista a telejornais dos principais canais de sinal aberto. No mais visto deles, o ‘Jornal Nacional’, da Globo, ficou 12 minutos no ar.
Os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos o trataram com a deferência imposta pelo mais alto cargo eletivo do País. Uma interação diplomática, bem diferente do confronto visto pelo público quando Bolsonaro foi sabatinado na bancada do JN, no final de agosto. Na ocasião, os ânimos elevaram a temperatura no estúdio.
Em um trecho da conversa, Bonner fez uma colocação. “O senhor se declara um defensor da liberdade de imprensa, mas, em alguns momentos da campanha, o senhor chegou a desejar que um jornal deixasse de existir”, disse o apresentador. Em seguida, o questionou: “Como presidente eleito, o senhor vai continuar defendendo a liberdade de imprensa e a liberdade do cidadão de escolher o que ele quiser ler, ver e ouvir?”
O editor-chefe do Jornal Nacional referia-se a declarações de Bolsonaro contra a Folha de S.Paulo, jornal de maior circulação do Brasil. Matérias críticas ao então candidato do PSL denunciaram uma suposta funcionária fantasma de seu gabinete e, às vésperas da eleição, um hipotético esquema de caixa 2 para pagar mensagens contra o PT no WhatsApp.
Em várias ocasiões, o agora presidente eleito atacou duramente o jornal da família Frias. “A Folha de S.Paulo é a maior fake news do Brasil”, declarou na mensagem enviada aos participantes de uma manifestação a seu favor na Av. Paulista, no último dia 21. “Vocês (Folha de S.Paulo) não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre, parabéns. Imprensa vendida, meus pêsames.”
No JN de ontem, o presidente eleito reforçou sua promessa de campanha ao citar a Folha. “Não posso considerar essa imprensa digna. Não quero que ela acabe, mas, no que depender de mim, na propaganda oficial do governo, imprensa que se comportar dessa maneira, mentindo descaradamente, não terá apoio do governo federal.”
Bonner insistiu: “Então o senhor não quer que esse jornal (a Folha) acabe. Está deixando isso claro, agora”. Bolsonaro retrucou. “Por si só esse jornal acabou, não tem mais prestígio nenhum. Quase todas as fake news que se voltaram contra mim partiram da Folha de S. Paulo.”
Nesse momento, William Bonner surpreendeu ao fazer uma observação a respeito da Folha. “Presidente, me permita. Como editor-chefe do Jornal Nacional, eu tenho um testemunho a fazer. Às vezes, eu mesmo achei que críticas que o jornal Folha de S. Paulo tenha feito ao Jornal Nacional me pareceram injustas. Isso aconteceu algumas vezes. Mas, para ser justo do lado de cá, preciso dizer que o jornal sempre nos abriu a possibilidade de apresentar a nossa discordância, nossos argumentos, aquilo que nós entendíamos ser a verdade. A Folha é um jornal sério, um jornal que cumpre um papel importantíssimo na democracia brasileira. É um papel que a imprensa profissional brasileira desempenha e a Folha faz parte desse grupo”. O âncora passou a palavra para a colega de bancada, Renata Vasconcellos, sem abrir espaço para a réplica de Bolsonaro.
Mais cedo, ao ser entrevistado no Jornal da Record, o presidente que assume o comando do Brasil em 1º de janeiro reafirmou a intenção de privatizar ou extinguir a TV Brasil, criada em 2007 pelo então presidente Lula para ser uma vitrine da gestão petista.
Desde a fundação, a emissora nunca registrou audiência relevante, com média diária abaixo de 1 ponto, apesar de produzir vários programas de qualidade sem viés político-partidário.
Jair Bolsonaro disse ao jornalista Eduardo Ribeiro, da RecordTV, que a ‘TV do Lula’ gera prejuízo anual de 1 bilhão de reais e dá “traço” no Ibope. Por isso pretende excluí-la do grupo de estatais.