Bonner ironiza governo por demora de 5h para responder ao JN

Episódio ressalta a tática bolsonarista de atender aos questionamentos da Globo somente em último caso

4 jan 2022 - 08h46
Bonner não perdoou o atraso do governo ao responder
Bonner não perdoou o atraso do governo ao responder
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Na edição de segunda-feira (3), a matéria de abertura do ‘Jornal Nacional’ foi a respeito do aumento da procura por testes rápidos de covid nas farmácias e da pouca testagem no Brasil, na comparação com outros Países.

Especialistas em infectologia e epidemiologia ouvidos pela reportagem ressaltaram a importância do teste como “política de Estado” contra a pandemia. Na volta ao estúdio, a âncora Renata Vasconcellos fez um complemento. “O Ministério da Saúde não se manifestou.”

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O ‘JN’ seguiu e, 25 minutos depois, William Bonner enquadrou, com seu peculiar deboche contido, a pasta responsável pela gestão da pandemia.

“Às 3 e meia da tarde, o ‘Jornal Nacional’ entrou em contato, por e-mail, com o Ministério da Saúde e perguntou se há algum plano para aumentar a oferta de testes de covid e se o Ministério da Saúde planeja distribuir kits para testagem em casa”, relatou.

“Eram 3 e meia da tarde. O ministério respondeu às 8h34 da noite (fez expressão irônica), depois que a reportagem já tinha sido exibida aqui”, afirmou. Bonner então transmitiu alguns dados e, no final da nota, deixou claro que a resposta enviada pelo governo estava incompleta, sem esclarecer todos os pontos questionados pelo ‘JN’.

Esse episódio reforça a luta de braços entre o jornalismo da Globo e Jair Bolsonaro. Post de 5 de abril de 2021 destacou que uma mesma frase sai quase todas as noites da boca dos âncoras do ‘Jornal Nacional’: “O Palácio do Planalto não quis comentar”. Há uma variante: “O Palácio do Planalto não quis se manifestar”.

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Na maioria das vezes, a Presidência da República e órgãos federais ignoram pedidos de respostas feitos pelos telejornais da emissora. Essa falta de comunicação é uma inegável tentativa do governo de desvalorizar o canal da família Marinho por reprovar sua cobertura jornalística crítica ao presidente e sua administração.

Trata-se de tática estranha, já que o ‘JN’ oferece a maior vitrine que o governo poderia ter: alcança cerca de 50 milhões de brasileiros todas as noites. Não há melhor espaço midiático para promover a gestão e rebater ataques. Uma manchete negativa na TV, não constatada de maneira convincente, pode produzir um estrago de imagem.

No ‘Manhattan Connection’ de 5 de dezembro de 2016, Lucas Mendes comentou a respeito. “O medo deles (os políticos) é sair uma notícia ruim no ‘Jornal Nacional’. Isso estremece, é muito mais devastador do que sair na internet.” Jair Bolsonaro não se amedronta com isso. Tal destemor cobra um preço: sua impopularidade está acima de 50%.

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