A contrariedade ficou estampada na face de William Bonner ao noticiar sobre mais ataques de Jair Bolsonaro contra a vacinação de crianças e a atuação da ANVISA.
O âncora e editor-chefe do ‘JN’ é conhecido por demonstrar o que pensa de maneira discreta. Mantém o autocontrole até quando é xingado pelo presidente, o que acontece com frequência.
Na quinta-feira (6), visivelmente irritado, ele usou o recurso do ‘editorial’ para criticar Bolsonaro, provocar o presidente a assumir suas responsabilidades e sugerir que ele seja enquadrado por desrespeitar a garantia da população ao acesso universal à saúde previsto na Constituição.
O trecho mais enfático: “O presidente Jair Bolsonaro é responsável pelo que diz, pelo que faz. Espera-se que venha também a ser responsável por todas as consequências daquilo que faz e diz”.
Foi a mais dura contestação das palavras, atitudes e do cumprimento das obrigações institucionais de Bolsonaro desde a edição de 8 de agosto de 2020, quando o ‘Jornal Nacional’ destacou a marca de 100 mil brasileiros mortos pela covid-19 e o negacionismo bolsonarista.
“Nós já mostramos o que diz o artigo 196 (da Constituição). É dever das autoridades que governam o País implementar políticas que visem a reduzir o risco de doenças. E a pergunta que se põe é: o presidente da República cumpriu esse dever?”, questionou o telejornal naquela noite.
Ontem, o ‘JN’ ressaltou a reação de especialistas da saúde e associações médicas contra a insistência do presidente em negar a eficácia das vacinas e desprezar as medidas de prevenção, além de desdenhar as mais de 300 mortes de crianças entre 5 e 11 anos pelo coronavírus.
Como quase sempre acontece, o governo ignorou o espaço oferecido pela Globo para a defesa do presidente. “O ‘Jornal Nacional’ pediu ao Palácio do Planalto que se pronunciasse a respeito das críticas veementes dos médicos às declarações do presidente Jair Bolsonaro. Mas nós não recebemos nenhuma resposta”, informou a âncora Renata Vasconcellos.
Visto por cerca de 50 milhões de brasileiros todas as noites, o ‘JN’ tem o poder de influenciar a avaliação pública dos governantes. A sequência de manchetes negativas sobre Bolsonaro no telejornal mais assistido do País está refletida em sua popularidade de apenas 20%, segundo diferentes pesquisas.