Na terça-feira (28), o Jornal Nacional ainda estava no ar quando começou a cerimônia on-line do Emmy Internacional, o maior prêmio de televisão do planeta. O telejornal concorria na categoria ‘Notícia’ pela cobertura da pandemia de covid-19 no Brasil.
Para acompanhar remotamente o evento, William Bonner e Renata Vasconcellos foram substituídos na bancada por Helter Duarte e Ana Paula Araújo. Na hora do anúncio do vencedor, apenas o âncora e editor-chefe apareceu na tela, ao lado de representantes dos outros 3 concorrentes.
O ‘JN’ perdeu o prêmio para a emissora britânica Sky News, que se destacou por matérias sobre o início da catástrofe provocada pelo coronavírus na Itália, primeiro epicentro da pandemia na Europa.
A TV Globo já ganhou 18 Emmys. Dois deles ao fundador da emissora, Roberto Marinho (1904-2003), como ‘Personalidade Mundial da Televisão’, em 1976 e 1983. O Jornal Nacional foi premiado em 2011 por reportagens sobre a ocupação policial do Complexo do Alemão, no Rio, dominado por facções criminosas.
Na transmissão ao vivo da premiação, Bonner mostrou espírito esportivo. Ao ouvir o anúncio do vencedor, o jornalista sorriu e aplaudiu o triunfo alheio. Uma reação elegante. Vários jornalistas, em diferentes categorias, foram menos cordiais ao perceber que não haviam vencido. Alguns sequer aplaudiram o colega premiado.
O ‘JN’ não teve o reconhecimento merecido, mas sua equipe pode se sentir vitoriosa. O trabalho realizado desde o início de 2020 deu valiosa contribuição para o combate da crise sanitária no País. Informações salvam vidas. Diariamente, o telejornal conscientizou o público sobre prevenção e o alertou a respeito de mentiras que podem colocar a saúde em risco.
Mais do que um troféu, o Emmy representaria uma vitória do jornalismo da Globo contra Jair Bolsonaro. Os telejornais da emissora sempre foram criticados pelo presidente. Ele reclamou inúmeras vezes das matérias sobre diagnósticos, mortes, enterros, condições caóticas nos hospitais e atraso na compra de vacinas.
Bolsonaro apelidou o canal carioca de ‘TV Funerária’. Disse que a âncora e editora-executiva Renata Vasconcellos fazia “cara de freira arrependida” ao ler as piores notícias sobre a pandemia no Brasil. Xingou Bonner algumas vezes por críticas à gestão da pandemia feita pelo governo federal.
No dia 19 de agosto, em live em seu perfil pessoal no Instagram para festejar a nomeação ao Emmy Internacional, o âncora desabafou. “Além de noticiar, temos que desmentir fake news, que muitas vezes têm origem em gabinetes oficiais, o que é bizarro, inacreditável”, disse. “Além de procurar as informações corretas para orientar você e a sua família, nós temos que desmentir a desinformação que está em toda parte, principalmente na internet, e tem sido promovida por autoridades”.
No caso de vitória do Jornal Nacional, será que Bonner mandaria uma indireta a Bolsonaro no discurso de agradecimento? Infelizmente, jamais saberemos. Apesar de se dizer perseguido pela Globo e jurar nunca assistir ao canal, o presidente se ofereceu na semana passada para ser entrevistado ao vivo, no que parece ser uma tentativa de frear a queda de popularidade. Por enquanto, a emissora ignorou a bandeira branca estendida pelo 'inimigo'.
Poliana Abritta e Caco Barcellos estavam na sede do jornalismo da Globo, no Rio, ao lado de Bonner e Renata, como representantes do ‘Fantástico’ e ‘Profissão Repórter’, indicados juntos na categoria ‘Atualidade’ por matérias mostrando o trabalho dramático de profissionais da linha de frente em hospitais lotados de pacientes com covid-19.
Na hora do anúncio, a imagem dos jornalistas não apareceu com os demais concorrentes. No espaço reservado, apenas a logomarca do ‘Fantástico’. O vencedor nessa categoria foi uma coprodução da produtora DSP com o canal ITV, ambos britânicos, a respeito de pessoas que receberam sangue contaminado no sistema de saúde do Reino Unido.