Bruno Fagundes ingressa em sua terceira novela com o seu personagem de Volta por Cima, o psicólogo Bernardo. Aos 35 anos, o ator destaca que o nome famoso do pai, Antônio Fagundes, não lhe rendeu mais oportunidades no mercado e critica o rótulo de nepobaby. Em conversa com a CARAS Brasil durante coletiva nos Estúdios Globo, ele desabafa sobre carreira de ator: "Profissão ingrata", diz.
Bernardo entra na história de Volta por Cima com o objetivo de ajudar a motorista Cida, que desenvolveu o transtorno pós-traumático depois de descobrir que poderia ter dirigido um ônibus sabotado, desencadeando as crises que agora são abordadas na trama. Bruno acredita que, ao acompanharmos o processo terapêutico da personagem desde o início, alguns tabus sobre tratamento mental possam ser quebrados.
"Acho muito bonito ver esse processo terapêutico no início, onde uma personagem, de certa forma meio cética, está a fim de buscar ajuda. Acho muito interessante abordarmos esse tema dessa forma, porque eu vejo que a saúde mental ainda é tabu, ainda é um assunto que, de certa forma, as pessoas evitam falar ou não sabem muito como é que funciona", ressalta o ator.
O artista afirma que o personagem é seu presente de Natal antecipado. "Já é a minha segunda parceria com a Claudia Souto; a primeira foi em Cara e Coragem (em que interpretou Renan). Ela é não só uma autora que eu admiro muito, mas é um ser humano maravilhoso que eu não canso de elogiar. Por conta da nossa parceria em Cara e Coragem, uma novela longa, com personagem tão difícil, a gente criou uma relação de muita confiança. Então, estar em um outro produto com ela, é algo que me enche de alegria. Eu já era fã da novela, estava acompanhando, ficava namorando a novela de longe; e fazer parte disso é o presente de Natal que eu queria. Estou muito feliz", conta.
Bruno não teve tempo de se preparar para a trama, pois foi escalado poucos dias antes de começar a gravar. Ele, então, precisou buscar em seu próprio processo terapêutico a construção para o personagem. "O ator tem que estar o tempo todo estudando, se preparando. A ferramenta principal do ator é a observação. O meu terapeuta não sabe, mas eu o observo muito quando a gente conversa (risos). Sou o maior entusiasta da terapia. Acho que todo mundo tem que arranjar um jeito de fazer", diz o artista, que faz análise há oito anos. "Faço de forma quase que ininterrupta. Durante a pandemia, foi uma ferramenta essencial para mim", completa.
MERCADO DE TRABALHO
Entre questões que Bruno já tratou com a ajuda de um profissional, está a rejeição no mercado de trabalho. "O ator ouve muito não. Na nossa vida, a exceção é o sim. Lidar com tudo isso é um desafio para um ator. Faz parte da profissão que é muito instável, assinamos em baixo; mas de certa forma ainda é um assunto que vem muito na minha terapia. Entender que os altos e baixos da profissão não tem a ver com você, mas com o mercado, a indústria, não é uma coisa pessoal", salienta.
O ator garante que nunca foi diagnosticado com depressão ou ansiedade, mas não nega ter passado por momentos melancólicos na vida. "Todo mundo tem o direito de se sentir mal ou não se sentir pleno e feliz o tempo inteiro. Já tive momentos mais melancólicos, e é importante enfrentá-los, olhar para eles", pontua.
DESISTIR DA CARREIRA DE ATOR
Questionado se já pensou em desistir da carreira de ator, ele confessa: "Muitas vezes. É uma profissão ingrata, em certo sentido. Muitas vezes, me perguntei se era o que eu queria fazer, se estava no caminho certo, se errei em alguma escolha do passado, mas aí vem algo que me faz ter a certeza de que esse é o meu caminho. Acredito que minha profissão tem um caráter de missão. Ser um contador de história, trazer assuntos importantes para o público através de uma novela, estar no lugar certo falando a coisa certa. Sou muito espiritualizado, acho que sempre tem uma forma bonita de colocar a gente no caminho onde a gente tem que estar".
RÓTULO DE 'NEPO BABY'
Por ser filho de Antonio Fagundes (75), um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, Bruno encara a pressão e a cobrança desde muito cedo em sua vida. Ele recusa o rótulo de "nepo baby", recentemente criticado por Fernanda Torres. "A partir da fala da Fernanda Torres, passei a olhar para isso de outra forma. Como pode alguém olhar para a carreira da Fernanda Torres, da grandessíssima atriz que ela é, com tantos personagens icônicos, e chamá-la de nepo baby? Claro que eu não estou me comparando com ela, tenho muito arroz e feijão para comer ainda, muito, mas tem um pouco esse ressentimento e acho que as coisas se misturam", declara.
"É ter consciência de onde você nasceu, da sua condição privilegiada, mas é importante a gente olhar para o que se faz a partir disso. A Fernanda Torres nunca baixou a cabeça para isso, foi atrás dos objetivos dela, ela se especializou, é uma atriz de talento imensurável, vide o que está acontecendo agora (possibilidade de Oscar para Agora Estou Aqui, filme estrelado pela atriz e por Selton Mello). Sinto orgulho. E eu tenho plena consciência do meu lugar de privilégio, mas o que fiz a partir disso é trabalho, trabalho. Escolhi o trabalho na minha trajetória", acrescenta.
'ESSA CONTA NÃO FECHA'
Bruno ainda dá lição: "Ser filho do meu pai não foi determinante no meu acerto e nem no meu erro. Quando a cortina abre, não importa quem é filho de quem, quem é a mãe de quem, tio. Não importa. Você tem que segurar ali, aquele público, durante o tempo que for necessário e é isso que determina se alguém está no mercado ou não. Não posso falar por todos, estou falando da minha experiência. Na minha vida, foi sempre assim que funcionou. Meu pai tem 50 anos de TV Globo e eu estou na minha terceira novela aos 35. Então, essa conta nem fecha".
Sobre ensinamentos em casa, já que é filho de um renomado e talentoso ator, o artista comenta: "Tem uma beleza na observação. Nossa profissão é feita de observação, mas é muito subjetivo. Como você ensina para um ator ser mais verdadeiro, mais emocionante, fazer o público se emocionar? Esse tipo de coisa não se ensina de uma forma cartesiana. Tem tantos micro fatores: tem carisma, tem inteligência emocional, tem o quanto você olha para si (...) Eu tive o privilégio de ver o trabalho do meu pai como poucas pessoas viram porque eu estava ali, mas ao invés de entenderem que eu estou em um lugar de continuação desse legado, tem ressentimento. Preferem decidir que eu sou um nepo baby".
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