Canais de TV arriscam reputação ao dobrar aposta em famosos polêmicos

Emissoras se curvam a figuras midiáticas que geram notícias negativas e ficam vulneráveis a diferentes tipos de prejuízo

24 nov 2022 - 08h42
(atualizado às 08h43)

Polemistas sempre rendem. Rendem audiência e repercussão na internet. Podem render também processos e um rombo no bolso.

A Jovem Pan começa a pagar um preço caro por dar espaço privilegiado a comentaristas adeptos da controvérsia como Rodrigo Constantino.

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O YouTube suspendeu a monetização dos canais da rede como punição por "repetidas violações de políticas contra desinformação".

Com isso, a Jovem Pan deixará temporariamente de faturar cerca de R$ 55 mil por dia com a interrupção da renda de seu conteúdo compartilhado na web.

Emissoras de TV se arriscam ao não condenar atitudes radicais de alguns contratados
Emissoras de TV se arriscam ao não condenar atitudes radicais de alguns contratados
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Dias atrás, dois comentaristas que desagradaram a Constantino ao vivo na TV, César Calejon e Leonardo Grandini, foram tirados do ar. O afastamento teria sido um pedido do veterano.

"... eu cansei de ser usado para atrair audiência, já que mais de 90% querem ouvir minhas análises, e ficar dividindo isso com quem busca surfar no nosso nome...", reclamou em vídeo após a confusão.

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"Espero que estejam entendendo quem dá audiência para o programa", gabou-se, em referência ao 'Três em Um' da Jovem Pan News.

Audiência sem a receita do YouTube não vai valer muito para a manutenção da emissora. Apenas ter estrelas do conservadorismo no elenco não é suficiente para o canal de TV sobreviver e lucrar.

No início de novembro, o CEO da Jovem Pan, Roberto Araújo, gravou um vídeo exibido nas plataformas.

Afirmou que os veículos do grupo continuarão a defender "a família, as liberdades individuais, a imprensa livre e independente e o Estado mínimo".

Agora atingida duramente onde mais dói, o faturamento, a JP News terá de decidir entre manter a câmera aberta a comentaristas belicosos, rever a linha editorial para recuperar o dinheiro pago pelo YouTube ou permanecer a mesma e assumir o prejuízo.

Declarações de Rodrigo Constantino sugerem que ele exige tratamento especial por 'dar audiência'
Foto: Reprodução

Outra personalidade midiática a gerar discórdia no momento é Deolane Bezerra. A advogada acredita ser dona do reality show 'A Fazenda 14'. Faz e desfaz com a estranha conivência da RecordTV.

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A repercussão na imprensa e nas redes sociais não poderia ser pior para a imagem da emissora do bispo Edir Macedo.

A impressão é de que há cumplicidade com o comportamento tóxico — ressaltado por ameaças a outros participantes do programa — da mulher que era anônima antes da morte acidental do marido, MC Kevin.

Ninguém entende o silêncio da direção de 'A Fazenda' e da cúpula da RecordTV. Defendem o 'quanto pior, melhor' a fim de atrair mais audiência? Sendo estratégia, o ônus se mostra maior do que o bônus.

O flagrante desrespeito de Deolane a alguns adversários e a certas regras da atração contribuíram para fazer desta edição de 'A Fazenda' a pior de um reality show brasileiro.

Pelo menos 1 grande anunciante deixou o programa por não querer sua marca associada a um espetáculo televisivo tão truculento e aparentemente sem pulso firme de quem o produz.

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Em um tempo de tamanha animosidade entre os brasileiros, com cotidianos episódios de intolerância, a RecordTV lamentavelmente não se posiciona contra o assédio moral e o risco de violência.

Nem parece ser um canal ligado a uma igreja evangélica, que exibe novelas bíblicas e exige comportamento exemplar de seus profissionais de vídeo e dos funcionários de bastidores.

A advogada Deolane Bezerra assusta dentro e fora da casa pelo comportamento agressivo
Foto: Reprodução/TV

Na RedeTV!, o alto custo se dá com Sikêra Jr., apresentador do 'Alerta Nacional'. Por seus ataques ideológicos, ele gerou processos contra si mesmo e a emissora.

Em uma das ações julgadas, terá de indenizar Xuxa Meneghel em R$ 50 mil em razão de ofensas contra a artista em seu programa policialesco.

Por declarações interpretadas como homofóbicas, Sikêra foi denunciado ao Ministério Público por ativistas da causa LGBTQIAP+.

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A modelo transexual Viviany Beleboni levou o apresentador à Justiça após se sentir difamada por ser exposta pejorativamente na atração.

No ar na RedeTV! desde o início de 2020, Sikêra Jr. foi considerado um fenômeno de audiência para o padrão da emissora, onde a maioria dos programas não consegue média de 1 ponto no Ibope.

Hoje, a situação é diferente. O 'Alerta Nacional' perdeu relevante parcela de telespectadores. Já ficou em 7º lugar no ranking dos canais de TV aberta.

Na semana de 14 a 18 de novembro, sua média foi de 0,5. Longe dos programas com mais público da casa, 'A Tarde é Sua' e 'Operação de Risco', com médias entre 1,5 e 2,0 pontos.

Mesmo em baixa no Ibope, sem repercussão on-line e com brigas judiciais, Sikêra Jr. é mantido diante das câmeras e tratado como estrela pela RedeTV!.

Sikêra Jr. já não gera mais audiência relevante à RedeTV!, mas continua com liberdade para atacar quem quiser
Foto: Reprodução/TV

Líder de público e com prestígio estratosférico, a Globo não escapa de semelhante conflito. Como explicar a omissão da emissora diante do caso Cássia Kis?

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A atriz de 'Travessia' fez declarações consideradas homofóbicas em uma entrevista no YouTube, participou de manifestações onde se pedia intervenção militar (em afronta à Constituição) e foi denunciada por importunação ao Compliance — o departamento que lida com denúncias internas de funcionários — do canal.

O que aconteceu? Nada. Pelo menos até agora. A Globo soltou uma nota protocolar em que afirmou "repudiar qualquer forma de discriminação". Mas e quando o preconceito é propagado por um contratado?

Cássia Kis tem o direito de se posicionar politicamente, porém, levou para dentro da Globo uma questão pessoal: o apoio a ideias antidemocráticas e potencialmente lesivas às liberdades individuais e coletivas e à preservação do Estado de direito.

A Globo deveria ser mais firme. Ainda mais após defender incansavelmente a democracia em seu jornalismo e criar recentemente uma diretoria de Diversidade para promover mais inclusão entre seus colaboradores e na programação.

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Presença de Cássia Kis em atos considerados antidemocráticos fez de sua militância um problema para a Globo
Foto: Reprodução

Talvez a emissora da família Marinho tenha optado 'esperar a poeira baixar' como recurso para não tomar nenhuma atitude enérgica, como aplicar uma advertência a Cássia Kis ou tirá-la da novela.

O assunto realmente saiu do foco, entretanto, a lesão à imagem do canal continua evidente. Parte significativa do público o vê como cúmplice ou condescendente com o que a atriz disse e fez.

Uma dubiedade inaceitável ao maior e mais influente grupo de comunicação do País, que reforçou seu discurso progressista e antissegregador ao longo do governo de Jair Bolsonaro.

Nestes casos exemplares, fica explícito o estrago às TVs que se submetem a uma determinada personalidade como se tivessem total dependência dela. Uma conduta autossabotadora.

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