Após morder com força, a Jovem Pan agora assopra com o máximo fôlego. A rede de rádios e seu canal de TV JP News tentam se descolar do rótulo de ninho da extrema-direita para garantir a sobrevivência do negócio.
O recente afastamento dos comentaristas com discurso mais radical, semanas depois da demissão de outros jornalistas vistos igualmente como extremistas, é uma tentativa de salvar a imagem estraçalhada.
A renúncia de Tutinha Amaral da presidência da empresa e a ascensão ao cargo do CEO Roberto Araújo também são um aceno. Mais do que isso, uma bandeira branca.
A Jovem Pan parece se retirar da guerra ideológica do capitão Bolsonaro assustada com a investigação do Ministério Público Federal por disseminação de fake news, a perda de vários anunciantes pressionados pelo movimento Sleeping Giants Brasil e a desmonetização no YouTube.
O grupo que completou 80 anos em 2022 não pode contar com os ‘patriotas’ que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília nem com os parlamentares à sombra do ex-presidente. Terá de se virar sozinho para tentar evitar punições.
O Sala de TV apurou uma das medidas estudadas pela direção: contratar apresentadores e comentaristas com reputação positiva, sem nenhuma associação com a ferocidade dos discursos contra a esquerda e Lula, nem com posicionamentos antidemocráticos.
As recentes dispensas na Globo e na CNN Brasil deixaram bons profissionais em busca de uma nova vaga no telejornalismo, porém, a maioria deles não vai querer arriscar a credibilidade construída ao longo de décadas na desgastada Jovem Pan News.
O possível ‘cavalo-de-pau’ na linha editorial, conduzindo a TV para o centro no espectro político, pode gerar um efeito colateral: o boicote de parte dos radicalistas e, consequentemente, queda no ranking de audiência.
Em uma democracia, não há problema em existir um canal à direita. Na verdade, é até desejável para ampliar a pluralidade de ideias. Quanto mais debates para o telespectador assistir, melhor.
O problema surge quando esse direitismo passa a flertar com declarações que promovem a intolerância, o totalitarismo e um ataque ao Estado de direito.
A Jovem Pan não precisa deixar de representar o conservadorismo clássico, basta dar marcha à ré para se afastar do extremismo.