É em um apartamento duplex de 700 metros quadros no elegante bairro Champel, em Genebra, onde Paulo Coelho mora. Ou melhor, onde se autoexilou. O escritor de 210 milhões de exemplares vendidos (e contando, contando, contando...) raramente sai de seu refúgio suíço. E com menor frequência ainda abre as portas para jornalistas.
Por insistência de seus editores, aceitou receber algumas equipes de reportagem para falar de Hippie, livro autobiográfico lançado em maio pelo selo Paralela da Companhia das Letras.
Em uma dessas exceções, o imortal da Academia Brasileira de Letras recebeu Virginia Drake, jornalista e também escritora espanhola. O que seria apenas mais uma entrevista para a revista XL Semanal resultou em repercussão planetária.
Paulo Coelho se irritou com algumas perguntas a respeito de seu poder, status e estilo de vida. A repórter quis saber o motivo do desconforto: “Qual é o preço que paga por esta entrevista?”
“Que me perguntem sempre as mesmas coisas. ‘O que faz com seu dinheiro?’, ‘Como é a fama?’ e coisas esse tipo. Depois de duzentas entrevistas, respondendo sempre as mesmas perguntas, me cansei”, retrucou o autor de O Diário de um Mago e O Alquimista.
Mais calmo, explicou: “Meu objetivo nunca foi ganhar dinheiro, eu fiz o que eu queria: a música, ser escritor... E eu não sabia que poderia ganhar dinheiro com isso. Agora, tenho grande respeito pelo sucesso, não pretendo usá-lo. Eu respeito o sucesso porque tem a ver com algo que não consigo entender”.
Mesmo com fortuna avaliada em 500 milhões de dólares, algo em torno de 2 bilhões de reais, Paulo Coelho jura ainda ser hippie. “Sim, porque continuo com a mesma filosofia: simplificar, não complicar”, disse. Virginia Drake não se convenceu do suposto desprendimento de seu entrevistado famoso.
A articulista escolheu como título da matéria um pedido do escritor no auge do embate entre eles: “Borra todo. ¡No quiero hacer esta entrevista!” (Apague tudo. Não quero fazer esta entrevista).
Dizer isso a um jornalista é o mesmo que sugerir “publique vírgula por vírgula”. Dito e feito. Centenas de portais de notícias, revistas, jornais e programas de TV replicaram as declarações enviesadas do bruxo brasileiro.
Será que, a partir de agora, algum repórter terá coragem de fazer a ele as perguntas de sempre?
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