Demorou, mas Deus Salve o Rei achou um rumo. A produção com aspecto medieval da faixa das 19h30 da Globo virou um folhetim clássico baseado no velho clichê ‘duas mulheres disputam o mesmo homem’.
Ainda que óbvia, a novela ficou mais atrativa. O foco está no amor de Amália (Marina Ruy Barbosa) e Afonso (Rômulo Estrela) e na obsessão de Catarina (Bruna Marquezine) em destruir a rival para ficar com o rei bonitão.
No fundo, é isso o que o noveleiro tradicionalista quer ver: paixões proibidas, romances açucarados, vilões odiosos. O mundo muda sem parar mas a teledramaturgia não pode se distanciar muito de sua origem.
O grande problema de Deus Salve o Rei foi levar-se muito a sério e não ter identidade própria. Alguns esperavam uma versão da bem-sucedida comédia social Que Rei Sou Eu? (1989); outros imaginaram que assistiriam a uma espécie de spin-off de Game of Thrones. Decepção geral.
Desde o início, Deus Salve o Rei se mostrou soturna, sem humor, arrastada. Havia excesso de tramas que não chegavam a lugar algum. Uma novela sem conexão com seu tempo e o público.
Havia a expectativa de atrair muitos jovens já que duas das maiores ‘influencers’ da internet brasileira foram escaladas como protagonistas. Contudo, nem os milhões de fãs de Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine engoliram aquela aridez dramatúrgica.
Após intervenções e mudanças, Deus Salve o Rei ficou mais parecida com uma novela convencional. Merece destaque o eficiente núcleo cômico liderado por Tatá Werneck (Lucrécia) e Johnny Massaro (Rodolfo): gênero fanfarrão com texto ágil e ótimos ‘cacos’ (improvisos) dos atores.
As intermináveis tormentas que atingem o casal principal (Amália e Afonso) incentivam o telespectador a torcer pela felicidade do monarca e sua amada plebeia. Quem resiste ao carisma de ambos? Aliás, como choram esses dois... Juntos ou separados, estão sempre com os olhos marejados.
No ar desde janeiro, Deus Salve o Rei terminará no final de julho. Está com média de 25 pontos, quatro a menos do que a antecessora, Pega Pega.
Deixará à cúpula da Globo uma lição já conhecida: a faixa das 7 da noite exige mais riso e menos lágrimas. As pessoas querem se divertir na hora do jantar, e não se aborrecer com um enredo enfadonho.