Na noite de sábado (4), a CNN anunciou a demissão de Chris Cuomo. "Um dos âncoras mais populares da emissora", comentou ao vivo o especialista em mídia Brian Stelter. O também âncora Jim Acosta estava visivelmente constrangido por anunciar a notícia bombástica sobre o agora ex-colega de canal.
Apresentador do 'Cuomo Prime Time', programa de maior audiência no horário nobre da CNN americana, Chris havia sido afastado na terça-feira (30), após meses sob suspeita de ter auxiliado indevidamente seu irmão, o então governador de Nova York, Andrew Cuomo, a se livrar de acusações de assédio sexual feitas por funcionárias de seu gabinete.
A crise protagonizada pelo jornalista começou em março, quando ele anunciou aos telespectadores que não iria falar do escândalo com o irmão em seu programa. Foi chamado de "hipócrita" e acusado de praticar "parcialidade jornalística" para beneficiar o parente. Sob pressão, Andrew deixou o cargo em agosto. A situação de Chris piorou.
Na época, a editora Maureen Callahan, do 'New York Post', foi implacável: "Um já caiu. Falta o outro. Agora que Andrew Cuomo renunciou, seu irmão, Chris, deve ser o próximo. Afinal, ambos são culpados de graves violações da ética". Dito e feito.
Logo veio à tona na imprensa que Chris havia sido uma espécie de consultor dos advogados do irmão na tentativa de desacreditar as vítimas de assédio e manipular a mídia. Apesar das críticas, a CNN decidiu mantê-lo no ar. Um voto de confiança que manchou a credibilidade do principal canal de notícias dos Estados Unidos.
A cúpula da emissora contratou um escritório de advocacia para analisar o caso. Surgiram provas incontestáveis da atuação antiética de Chris Cuomo. O relatório final da investigação foi entregue na sexta-feira (3) ao presidente da CNN, Jeff Zucker. Após ler dezenas de páginas, ele se convenceu da culpa do âncora e comunicou a demissão.
"Não era assim que eu queria terminar meu tempo na CNN", lamentou o apresentador horas após ser dispensado. Livrar-se dele não vai encerrar o problema para a emissora. A demora em agir, como se tentasse proteger seu contratado, tirou valiosos pontos da confiança do público no canal.
Com 51 anos e longa carreira bem-sucedida na TV, Chris estava na CNN desde 2013. Ganhava salário anual de 6 milhões de dólares, cerca de R$ 34 milhões. Progressista, se tornou um dos mais ferozes questionadores de Donald Trump em seu tempo na Presidência.
Em 2020, Cuomo gerou manchetes nos quatros cantos do planeta por contrair covid-19 e comandar seu programa isolado no porão de sua casa, em Nova York, e também ao surgir nu, por descuido, numa live feita por sua mulher, a jornalista Cristina Greeven.
Ele não foi o primeiro âncora americano a perder o emprego por envolvimento direto ou indireto em caso de assédio sexual. Em anos recentes, foram demitidos Charlie Rose (CBS), Matt Lauer (NBC), Eric Bolling (Fox News) e Bill O’Reilly (Fox News). A imprensa gringa já pergunta: quem será o próximo?