O jornalista, produtor musical e apresentador do programa Ensaio,da TV Cultura, Fernando Faro, morreu às 23 horas de ontem, no hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, aos 88 anos, após permanecer internado por três meses. Sofreu uma infecção pulmonar. Ele iria completar 89 anos no próximo dia 21 de junho.
O corpo está sendo velado desde às 10h no Cemitério do Araçá, na região central de São Paulo, e a cerimônia prosseguirá até às 20h, quando a urna fúnebre será levada para o crematório de Vila Alpina, na zona leste. Faro, também conhecido como Baixo, deixou três filhos, Maria Luiza, Maria Fernanda e Lucas, e duas netas.
Nascido em Aracajú, em Sergipe,em 21 de junho de 1927, Fernando Abílio de Faro Santos foi para a capital paulista estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas não chegou a completar o curso, ficando só até o terceiro ano. Em 1949, passou a trabalhar como repórter do jornal A Noite, depois foi para o Jornal São Paulo, que pertencia ao ex-governador do Estado de São Paulo, Ademar de Barros.
Bossa nova
Sua atuação na televisão começou em 1951, na TV Paulista. Mais tarde, na década de 60, começou a produzir musicais na extinta TV Tupi como o Hora da Bossa, tendo atuado em grandes espetáculos com famosos na Música Popular Brasileira, entre os quais, Ney Matogrosso, Dorival Caymmi, Gal Costa, Chico Buarque e Marcos Valle.
Entre seus trabalhos figura a produção do programa Divino, Maravilhoso, sobre o tropicalismo, transmitido pela extinta TV Tupi, em 1968, em plena efervescência da luta contra a ditadura militar. Dirigiu, entre outros, o Festival Universitário, o Festival de Música Popular e o Festival da Viola. Ele deixou a extinta TV Tupi apenas quando a emissora decretou falência, na década de 1980.
No período de sua passagem por essa emissora passou a ser carinhosamente chamado de Baixo pelo autor de novelas e diretor de TV Cassiano Gabus Mendes. Brincando com a situação, Faro repassou o mesmo apelido a todos à sua volta. Ele conduzia o programa Ensaio durante 26 anos.
Nomes de peso
Ensaio foi uma herança da extinta Tupi que chegou a ter outro nome, MPB Especial, mas quando Faro ingressou na TV Cultura, em 1972, o nome passou a ser MPB Especial. O nome original foi retomado em 1990. Por ele, passaram grandes nomes como Elis Regina (MPB Especial), Adoniram Barbosa (MPB Especial), Vinicius de Moraes (MPB Especial), Tom Zé, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Baden Powell, Fundo de Quintal, Toquinho, Dorival Caymmi, Tim Maia, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Maria Rita, Beth Carvalho, Renato Teixeira, Dominguinhos, Ney Matogrosso e Cauby Peixoto.
Em uma gravação da TV Cultura sobre o seu perfil, Faro disse: “Sou sequência e consequência de alguma coisa, uma semente de uma raiz, de um tronco. Esse é o material que uso no meu trabalho na televisão e na vida.”
O jornalista e escritor Assis Ângelo lamentou a morte de Faro e relembrou que ele foi o idealizar do programa Móbile, anterior ao Ensaio, e que há cerca de três anos, os dois participaram de uma gravação para a TV Cultura. Logo depois, foram jantar em casa de um amigo, acompanhados do cantor e compositor Geraldo Vandré. “É uma pena, mas o que foi é só a carcaça. Faro não morreu porque deixou uma obra”, disse ele.