A maioria de nós, jornalistas, é arrogante, presunçosa e superestimada. Somos menos inteligentes, cultos e autoconfiantes do que fazemos crer o leitor, telespectador ou ouvinte. Um tanto dissimulados, sem dúvida.
O ambiente da televisão se destaca pela toxicidade. Os egos estão em constante guerra diante das câmeras e nos bastidores. Muitos jornalistas que vão para a TV se deixam picar pela mosca da fama.
Passam a achar que são celebridades. Pior: comportam-se como tais, ou seja, dominados pela vaidade excessiva. Ficam mais preocupados com a imagem vendida ao público do que em apurar notícias.
Cristiana Lôbo era a exceção entre as exceções. Uma rara unanimidade no telejornalismo. Todos gostavam dela, a admiravam: os colegas de Globo e Globonews, os jornalistas de outros canais, o baixo e o alto clero de todos os Poderes.
A repórter tímida que estreou como comentarista no ‘Jornal das Dez’, em 1997, se tornou a mais respeitada analista política da TV sem humilhar ninguém, sem subir em um pedestal nem ‘furar’ o olho dos concorrentes. Sobressaiu-se naturalmente pela competência, a paixão pela profissão e a gentileza desconcertante.
Sim, pessoas gentis desconstroem os esnobes e antipáticos. Como era possível resistir ao sorriso de Cristiana? E a seu modo sempre calmo (e coerente) de comentar os assuntos mais escabrosos da política e da sociedade? As pitadas de bom humor eram igualmente cativantes.
Lembrarei sempre do jeito afetuoso, cúmplice, com o qual ela anunciava na parte final de seu programa ‘Fatos & Versões’: “Hora do ‘Papo no Cafezinho’, as histórias dos bastidores de Brasília que guardamos especialmente para você”.
Dizia olhando para a câmera, mãos elevadas ao telespectador, como se entregasse um presente. O tipo de pessoa que a gente lamenta não ter conhecido pessoalmente, não ter feito amizade.
Grande Cristiana. Deixa saudade, lições e uma legião de admiradores e discípulos. Jornalistas em geral não merecem aplausos, mas ela, despretensiosamente, fez por merecê-los.