Cristiana Lôbo era rainha da gentileza no cruel meio da TV

Jornalista será sempre lembrada como exemplo de que não é necessário ser pedante para merecer credibilidade e status

14 nov 2021 - 10h35
(atualizado às 10h35)

A maioria de nós, jornalistas, é arrogante, presunçosa e superestimada. Somos menos inteligentes, cultos e autoconfiantes do que fazemos crer o leitor, telespectador ou ouvinte. Um tanto dissimulados, sem dúvida.

Cristiana Lôbo morreu no dia 11 de novembro, aos 64 anos, após batalha contra um câncer raro na medula
Cristiana Lôbo morreu no dia 11 de novembro, aos 64 anos, após batalha contra um câncer raro na medula
Foto: Reproduções

O ambiente da televisão se destaca pela toxicidade. Os egos estão em constante guerra diante das câmeras e nos bastidores. Muitos jornalistas que vão para a TV se deixam picar pela mosca da fama.

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Passam a achar que são celebridades. Pior: comportam-se como tais, ou seja, dominados pela vaidade excessiva. Ficam mais preocupados com a imagem vendida ao público do que em apurar notícias.

Cristiana Lôbo era a exceção entre as exceções. Uma rara unanimidade no telejornalismo. Todos gostavam dela, a admiravam: os colegas de Globo e Globonews, os jornalistas de outros canais, o baixo e o alto clero de todos os Poderes.

A repórter tímida que estreou como comentarista no ‘Jornal das Dez’, em 1997, se tornou a mais respeitada analista política da TV sem humilhar ninguém, sem subir em um pedestal nem ‘furar’ o olho dos concorrentes. Sobressaiu-se naturalmente pela competência, a paixão pela profissão e a gentileza desconcertante.

Sim, pessoas gentis desconstroem os esnobes e antipáticos. Como era possível resistir ao sorriso de Cristiana? E a seu modo sempre calmo (e coerente) de comentar os assuntos mais escabrosos da política e da sociedade? As pitadas de bom humor eram igualmente cativantes.

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Lembrarei sempre do jeito afetuoso, cúmplice, com o qual ela anunciava na parte final de seu programa ‘Fatos & Versões’: “Hora do ‘Papo no Cafezinho’, as histórias dos bastidores de Brasília que guardamos especialmente para você”.

Dizia olhando para a câmera, mãos elevadas ao telespectador, como se entregasse um presente. O tipo de pessoa que a gente lamenta não ter conhecido pessoalmente, não ter feito amizade.

Grande Cristiana. Deixa saudade, lições e uma legião de admiradores e discípulos. Jornalistas em geral não merecem aplausos, mas ela, despretensiosamente, fez por merecê-los.

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