No capítulo de segunda-feira (20), Segundo Sol teve uma sequência ambientada num banco. Valentim (Danilo Mesquita) foi atendido por dois gerentes, uma mulher e um homem, ambos negros.
Dias atrás, o médico que acalmou a família de Luzia (Giovanna Antonelli), após a DJ ter sido baleada, também era negro. Assim como o doutor que, em episódio exibido em junho, comunicou ao clã Falcão que Valentim não corria perigo de morte depois de se ferir num acidente de carro.
Recentemente, a novela das 21h da Globo escalou outros atores negros para figurações e participações-relâmpago.
Não se trata de mera coincidência. Tudo indica que os produtores de elenco tenham sido orientados a escolher tal perfil.
Antes mesmo da estreia, em maio, Segundo Sol foi criticada por ter poucos atores negros em uma trama ambientada na Bahia, o estado com mais numerosa população parda e negra do País.
A emissora se defendeu em nota enviada à imprensa: “Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso”.
A repercussão não parou por aí. O canal da família Marinho se viu obrigado a fazer um mea-culpa. “De fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão”, informou outro comunicado.
O Ministério Público do Trabalho não ficou satisfeito. Por meio da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho, o MPT exigiu maior diversidade racial – em outras palavras: mais negros – na novela brasileira de maior audiência.
Desde então, o folhetim criado por João Emanuel Carneiro, autor da primeira trama global protagonizada por uma negra (Da Cor do Pecado, de 2004, com Taís Araújo no papel de Preta), passou a mostrar mais atores de pele escura em papéis pequenos.
Na cena passada na agência bancária, um dos gerentes que atenderam Valentim foi interpretado por Alexandre Moreno, ator ganhador de um Kikito do Festival de Cinema de Gramado e um troféu do também conceituado Prêmio Cesgranrio de Teatro.
Apesar de tais reconhecimentos, Moreno nunca recebeu um grande personagem em seus mais de 20 anos de atuação na teledramaturgia. Costuma ser lembrado por um personagem coadjuvante envolvido justamente numa polêmica racial.
Em Pátria Minha, de 1994, da autoria de Gilberto Braga, ele viveu Kennedy, um jardineiro honesto acusado injustamente de roubo pelo patrão, Raul Pellegrini (Tarcísio Meira).
O Brasil se chocou com a cena na qual o empresário xingava o rapaz de “negro safado” e “crioulo”, além de dizer que “vocês (negros), quando não sujam na entrada, sujam na saída” e afirmar que “o cérebro de vocês (negros) é diferente do nosso (os brancos)”.
Ver em cena um artista talentoso e premiado como Alexandre Moreno é sempre prazeroso. Mas ele merece mais do que uma ‘ponta’ provavelmente imposta pela ‘cota racial’ exigida pelo Ministério Público do Trabalho.
Ironicamente, os poucos atores negros em papéis de destaque em Segundo Sol têm roubado a cena. Fabrício Boliveira (Roberval), Claudia Di Moura (Zefa), Roberta Rodrigues (Doralice) e Acácio (Dan Ferreira) já protagonizaram boas cenas e têm enredo próprio consistente.
Em tempo: Belmiro, o tal homem que, no início da novela, prestou falso testemunho no julgamento de Luzia e ajudou a condená-la pela morte do marido, voltará a aparecer esta noite. É interpretado por um ator negro. O nome dele? Não foi divulgado pela emissora.
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