Certa vez, sozinha em Paris, já com mais de 70 anos e sem nenhuma expectativa amorosa, Danuza Leão foi cortejada por um estranho. Os dois estavam hospedados no mesmo hotel.
Ela o rejeitou. Depois, pensou melhor, subiu para o quarto dele e teve uma inesquecível noite de amor. Após a aventura incomum a uma mulher na terceira idade, sentou na beira da cama, acendeu um cigarro e refletiu sobre a “loucura” que havia se permitido.
A vida da ex-modelo, consultora de etiqueta e escritora foi assim, recheada de episódios curiosos. Ganhou fama como manequim internacional. Depois, notoriedade pelo casamento com o jornalista Samuel Wainer, perseguido na ditadura. Acumulou poder na alta sociedade como promoter de boates elitistas no Rio.
Após décadas de uma vida agitada, isolou-se do mundo. Cadê Danuza? Ninguém sabia dela. Ressurgiu como autora de livros com dicas de comportamento. Sucesso estrondoso. Escreveu também alguns volumes sobre viagens. Sua narrativa em primeira pessoa sempre teve um delicioso humor ácido. Assinou colunas em jornais e revistas.
Trabalhou na Globo como consultora de novelistas. Ela os ajudava a retratar de maneira mais crível os ricos e poderosos nas tramas. Sua ligação com a emissora começara bem antes. Participou de alguns programas como entrevistadora e era mãe de Samuel Wainer Filho, repórter dos telejornais do canal. Em junho de 1984, aos 28 anos, ele morreu em um acidente com um carro de reportagem da TV.
Sofisticada, Danuza tinha horror à obsessão dos brasileiros por grifes badaladas. Desprezava a mania de ostentar riqueza. Com seu porte de rainha, costumava desfilar pelas calçadas da zona sul do Rio vestindo jeans, camiseta e tênis. Pensava mil vezes antes de pagar caro por artigos de luxo.
Em Paris (era a cidade preferida dela), se hospedava sempre no mesmo hotel simples no 66 da rue de Seine. Seu programa preferido era entrar num bar ou café, pedir uma bebida e ficar horas a observar as pessoas. Apesar das dores e decepções, jamais perdeu o interesse por gente e pelo mundo.
No fim da vida, foi vítima do politicamente correto por algumas de suas opiniões em artigos. Defendia que as mulheres deveriam ser cortejadas para o bem de sua autoestima, contestava questões do feminismo e polemizou ao criticar a PEC das empregadas domésticas. Sem paciência, decidiu se afastar de novo dos holofotes. Viveu os últimos anos dedicada a seus livros e às lembranças.
Viveu e morreu como quis.