Uma entrevista no ‘Flow’, na qual reclamou de ter levado um “pontapé na bunda” ao ser demitido da Globo, em 1997, e o lançamento do livro de memórias ‘O Lado B de Boni’ trouxeram José Bonifácio de Oliveira de Sobrinho novamente às manchetes.
O ex-vice-presidente trabalhou no canal de 1967 a 1997. Em três décadas, criou e consolidou o padrão de qualidade reconhecido inclusive no exterior, especialmente nas produções de teledramaturgia.
Outro feito de Boni foi estabelecer uma política de valorização dos artistas da casa. Ele se preocupava com o bem-estar de atores e apresentadores. Era acessível e ouvia as reivindicações. Quando necessário, dava orientações e broncas.
Sob a gestão dele, ‘ser global’ virou o posto de maior status do audiovisual brasileiro. Era um sonho conseguir um contrato para fazer novela ou série na emissora mais rica e de maior audiência, e ganhando um bom salário.
A demissão de Boni gerou gradual declínio na relação da Globo com seu elenco de estrelas e talentos promissores. Os diretores-gerais seguintes – Marluce Dias (1998-2002), Octávio Florisbal (2002-2012) e Carlos Henrique Schroder (2013-2021) – eram executivos sem laços fortes com o artístico.
Ao assumir a direção de Entretenimento, o diretor de novelas Ricardo Waddington, que tinha convivência de décadas com o elenco do canal, teve de seguir a política de demissões de atores criada para equilibrar as contas da empresa. Após centenas de contratos não renovados, a relação da emissora com os artistas degringolou de vez.
Na metade de 2023, Amauri Soares assumiu a direção dos Estúdios Globo. Sua missão é administrar a gigantesca produção de conteúdo da Globo na TV, no streaming e outras plataformas. Paralelamente, e talvez não oficialmente, ele terá de reconstruir o relacionamento do canal com a classe artística. Hoje, há mágoa e revolta de inúmeros atores que se sentiram desprezados e descartados após longa dedicação à emissora.