Neste 28 de abril, o Sala de TV completa uma década. Foram cerca de 8 mil postagens entre notas, matérias, artigos e entrevistas. Em foco, a análise da programação, os bastidores das emissoras e uma visão crítica sobre as celebridades e a mídia em geral.
Neste período, a boa e velha televisão aberta (inaugurada no Brasil em setembro de 1950), perdeu força, mas mantém relevante influência sobre a maioria dos brasileiros. Ainda é a principal fonte de informação e entretenimento nas residências.
Algumas transformações impostas ao mais popular veículo de comunicação nestes 3.653 dias de existência do blog:
Concorrência nova e dinâmica – Neste período, a TV paga se fortaleceu com conteúdo inovador e o streaming atraiu milhares de assinantes. As grandes emissoras se viram obrigadas a criar suas próprias plataformas digitais. Muitos brasileiros perderam o hábito de ver televisão todos os dias.
Novelas com menos público - Há 10 anos, o horário das 21h da Globo era ocupado por ‘Em Família’. Rejeitada, a trama marcou média de 29 pontos no Ibope. Dali para frente, a maioria das produções do horário não conseguiu superar a meta de 30 pontos. Houve sucessos pontuais, como ‘O Outro Lado do Paraíso’ (38 pontos), e o recorde negativo com ‘Um Lugar ao Sol’ (22 pontos).
Atores perderam status – Os artistas das novelas eram as maiores celebridades do país. Isso mudou. Agora são os grandes influenciadores digitais. Eles passaram a atrair anunciantes e estrelar campanhas publicitárias. O glamour e o poder em torno dos atores da TV foram esvaziados. Na Globo, as estrelas ficaram sem os contratos de longa duração.
Telebarracos e policialescos enfraquecidos – O sensacionalismo perdeu espaço na TV aberta. O ‘Casos de Família’ (SBT) saiu do ar. Jornalísticos sangrentos, a exemplo do ‘Cidade Alerta’ (Record), registram audiência menor do que na época do lançamento do ‘Sala de TV’.
Telejornais em luta contra as fake news – A desinformação criada e espalhada nas redes sociais se tornou a grande concorrente do jornalismo profissional. A Globo chegou a criar o quadro ‘Fato ou Fake’, exibido em telejornais, para desmentir posts mentirosos.
Programação infantil minguada – A televisão apelidada ‘babá eletrônica’ por prender a atenção das crianças e dar liberdade aos pais para fazer atividades cotidianas agora oferece poucas opções ao telespectador mirim. As restrições legais à publicidade infantil desestimularam os canais a investir nesse perfil de público. A criançada tem agora a internet como maior fonte de distração.
A Inteligência Artificial chegou chegando – Pouco falado anos atrás, o recurso está sendo cada vez mais usado pelas principais emissoras. Na Globo, a tecnologia de reconhecimento facial fez uma câmera exclusiva ‘seguir’ o líder da semana o tempo todo no ‘BBB24’. Na série ‘Justiça 2’ (disponível no Globoplay e, futuramente, com exibição na emissora de sinal aberto), o ‘deepfake’ – inserção do rosto de uma pessoa no corpo de outra – foi aplicado nas cenas em que o ator Luciano Mallmann, que é cadeirante, aparece em pé e andando antes do personagem sofrer a lesão.
Grandes artistas aposentados – A última década marcou a saída de cena de alguns dos maiores apresentadores do entretenimento. Entre eles, Silvio Santos e Faustão. Apesar disso, houve pouca renovação. As emissoras demonstram dificuldade em lançar novos condutores de programas populares. Dos novatos com bom desempenho no vídeo, destaca-se João Guilherme Silva (filho de Fausto Silva) na Band.
Artistas e jornalistas podem se declarar não-héteros - Desde a criação do blog houve aumento da liberdade para que apresentadores (inclusive de telejornal), repórteres e atores se declarem gays, bissexuais, pansexuais ou outra definição dentro do guarda-chuva LGBTQIAP+. Antes, prevalecia o medo de que a carreira fosse prejudicada.
Diversidade racial e de gênero - Atores pretos eram, quase sempre, escalados para papéis coadjuvantes nas novelas e séries. Grandes talentos foram desperdiçados ao longo de décadas. A Record e, especialmente, a Globo, corrigiram esse erro nas produções de teledramaturgia nos últimos anos. Pretos agora aparecem como protagonistas. Houve também a queda da barreira contra atores declaradamente gays e os transexuais. A representatividade virou uma regra na TV.
A televisão faz parte da cultura brasileira e não merece ser desprezada. Vista com preconceito por parte dos intelectuais, o veículo presta valiosos serviços à população. Imperfeita e fascinante, às vezes tendenciosa e também propulsora de evoluções na sociedade, a telinha é ótima companhia a quem sabe usar o controle remoto e pensa com a própria cabeça.
Um agradecimento especial à jornalista Mariana Lanza, do Terra, que desde o primeiro dia até hoje sempre apoiou o blog e defendeu a liberdade de expressão neste espaço.