Antes mesmo do pronunciamento de Jair Bolsonaro admitindo a derrota na eleição, empresários poderosos de TV indicaram o desembarque do bolsonarismo raiz.
Como proprietários de emissoras, eles têm interesses acima das questões ideológicas e partidárias. Pensam de maneira pragmática na sobrevivência do negócio.
O primeiro a agir foi Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, da Jovem Pan News. Demitiu vários jornalistas com discurso radical a favor de Bolsonaro e contra Lula.
Entre eles, os âncoras Augusto Nunes e Carla Cecato (que fez os programas eleitorais da derrotada campanha de reeleição), o apresentador Caio Coppolla e o comentarista Guilherme Fiuza.
Segundo a ‘Folha de S. Paulo’, Tutinha disse que “a desobediência civil não saíra do meu bolso”. Referiu-se a eventuais multas e indenizações por ataques no ar contra o presidente eleito.
A marcha à ré para se distanciar da direita perdedora tem a ver também com a intenção de conquistar uma fatia relevante da propaganda do futuro governo petista.
Historicamente, a esquerda sempre foi generosa com as emissoras de TV. As presidências de Lula e Dilma investiram pesado na compra de espaço nos intervalos comerciais.
Dono da Record TV, bispo Edir Macedo usou seu perfil no Instagram para orientar os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus a estender a bandeira da paz a Lula e ao PT.
“Nós incluímos no nosso clamor que Ele fizesse a Sua vontade. E a vontade Dele foi feita, graças a Deus. Você não vai perder a sua paz por política”, disse.
“Ainda que nós tenhamos nos decepcionado com o resultado (das eleições), todavia eu me alegrarei no Senhor... Amiga e amigo, não lute com ninguém. Não entre em disputa com ninguém.”
Com jornalismo que suavizou a cobertura dos piores momentos de Jair Bolsonaro no poder, a Record chegou a ser o canal de TV que mais faturava com propaganda federal.
Uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) ao Ministério das Comunicações fez o governo respeitar a proporcionalidade da audiência nacional e a Globo voltou a liderar o ranking de recebimento de verba oficial.
Defensor aguerrido de Bolsonaro nas redes sociais, onde discutiu com vários críticos famosos do presidente, o sócio-fundador e vice-presidente da Rede TV!, Marcelo de Carvalho, suavizou o discurso.
“Com relação as eleições, creio que o presidente e sua equipe analisaram e chegaram à conclusão que transcorreram sem fraude ou teriam denunciado”, tuitou.
“... democracia pode não ser a melhor forma de governo, mas é melhor que todas as demais. Vivemos e trabalhamos aqui, novo Presidente está eleito, e agora é trabalhar e torcer para termos um bom governo.”
Igualmente bolsonarista, Silvio Santos, de 91 anos, fez questão de votar, apesar de não ser mais obrigado por conta da idade.
Sua ponte com o atual presidente foi construída pelo genro, Fábio Faria, ministro das Comunicações.
O dono do SBT não se manifestou após o resultado das urnas. A considerar seu posicionamento em eleições anteriores, ele deve manter uma relação diplomática com Lula.
Em 2010, Silvio fez uma visita de cortesia ao então presidente de esquerda no Palácio do Planalto. O Homem do Baú gosta de afagar quem está no poder.
Tudo indica que o jornalismo do SBT não será especialmente incisivo ao cobrir o terceiro mandato do petista.