Poucas vezes na história da televisão uma pessoa foi tão humilhada diante das câmeras como Natália no ‘Jogo da Discórdia’ de segunda-feira (14), no ‘BBB22’.
Não se tratou de uma simples dinâmica em grupo, e sim de um massacre. Produziu profunda dor emocional na participante. Espetáculo deprimente assistido por milhões de famílias.
Os participantes que a atacaram com balde de água ‘suja’ agiram com inegável sadismo. Uma vingança contra a competidora que mais incomoda a casa.
A Globo dá péssimo exemplo no momento em que a sociedade tanto discute a respeito de saúde mental e se mobiliza contra práticas odiosas como o bullying e a misoginia.
A situação vexatória a qual Natália foi exposta incomodou até o telespectador menos sensível. Basta um exercício rápido de empatia para mensurar o que ela sentiu.
Digna, a sister recusou o papel de vítima. Negra e portadora de vitiligo, certamente já viveu momentos igualmente constrangedores. De certa forma, está acostumada com a crueldade humana.
Dezenas de profissionais que compõem a produção do ‘BBB’ não conseguiram ter uma ideia melhor? Precisavam apelar a uma ‘brincadeira’ idiota para atrair audiência?
A expulsão de Maria, que acertou o balde na cabeça de Natália ao não controlar sua raiva, desviou a atenção da responsabilidade – inclusive ética – da Globo.
A emissora é responsável pela saúde física e o bem-estar emocional dos participantes do programa. Falhou miseravelmente ao estimular um show bizarro de degradação mental.
Agiu somente após a pressão das redes sociais, que bombardearam os patrocinadores com mensagens de contestação do episódio. O medo de perder dinheiro fez a Globo, tardiamente, tomar uma atitude.
A essência do formato do ‘Big Brother’ é, sim, lidar com o pior lado do ser humano, inclusive falha de caráter e preconceitos. Mas não se pode usar isso de maneira tão manipuladora e leviana.
Por sorte, parte numerosa do público ficou ao lado de Natália. E, no confinamento, ela recebeu o acolhimento de alguns colegas. A Globo, ao invés de fazer um discurso contra o assédio moral, explorou as consequências da humilhação como se fosse uma novela.
Em um País sério, órgãos reguladores questionariam a postura da emissora, porém, estamos no Brasil, onde vale tudo pelo entretenimento – e quem tem poder, manda e desmanda.