Em 1920, o psicólogo americano Edward Thorndike batizou de ‘efeito halo’ a tendência de o cérebro tirar uma conclusão apressada e radical a respeito de uma pessoa ou situação a partir de uma única característica dominante.
Ao desconsiderar outras peculiaridades temos um reducionismo equivocado e perigoso. Um exemplo prático: deduzir que uma pessoa bem-vestida seria mais confiável do que alguém com roupas simples.
Outra situação: um candidato com beleza padrão (a tal ‘boa aparência’) seria mais capacitado intelectualmente do que um postulante com estética comum.
Esse conceito – uma armadilha cerebral, na verdade – pode ter levado muitos telespectadores a aplicar o maniqueísmo na interpretação de Jade e Arthur, protagonistas do ‘BBB22’.
A influencer que tinha despertado a estima do público no início do reality passou, de repente, a ser a encarnação da arrogância devido a gestos, declarações e atitudes em sua cruzada contra o galã.
A maioria dos fãs do programa alimenta uma visão extremista a respeito dela, sem considerar as subjetividades. “Jade é uma cobra, ponto final”, decretam, cegamente.
Do outro lado, paira sobre Arthur um olhar piedoso estimulado pela ideia de que ele é um guerreiro solitário a lutar contra tudo e todos. Virou o baluarte da ética e coerência. Um Davi diante do Golias de minissaia, cabelos longos e olhos verdes.
O mocinho sensual injustiçado foi abraçado por aqueles que definem Jade tão somente por defeitos que, na verdade, são qualidades: a obstinação pela vitória, o aliciamento de aliados, a articulação pela sobrevivência no jogo e a coragem de desafiar o rival cara a cara.
Ambos são grandes jogadores. A diferença está na maturidade e inteligência emocional. Arthur se sobressai pela articulação e usa a frieza como vantagem. Escolhe cada palavra, mexe no tabuleiro sem estardalhaço, não desrespeita a oponente.
A influencer peca pela verborragia e a impulsividade. Provoca, debocha, esfrega autoconfiança na fuça do inimigo. Não disfarça o que sente nem tenta passar a imagem de humilde. Pelo contrário, exala presunção. Hipersensíveis, os telespectadores se sentem ultrajados. “Quem ela pensa que é?”
Haveria traços de machismo no ódio coletivo contra Jade? Talvez. Rico Melquiades fez bem pior – humilhar os adversários e instalar o caos eram seus passatempos preferidos – e venceu ‘A Fazenda 13’, em dezembro, sem ter seu método contestado.
O histórico do ‘BBB’ mostra que o público não costuma apoiar sisters assumidamente jogadoras. Basta lembrar de Lia (‘BBB10’), Talula (‘BBB11’) e Viih Tube (‘BBB21’). Apesar do talento para manipular, atacar e se defender, foram eliminadas sem dó antes da final.
Além da hipotética influência do ‘efeito halo’, outro elemento é determinante para a permanência no reality show e o possível triunfo. O carisma.
Trata-se de uma intrigante habilidade inata. A pessoa pode até forjá-la, porém, não consegue sustentar por muito tempo. Jade não segurou a personagem simpática. Arthur é um poço de carisma.