‘Efeito halo’ explica ódio por Jade e fascínio por Arthur

Fenômeno mental pode fazer o público ver a influencer como 100% do mal e o ator parecer incontestável ícone do bem

8 mar 2022 - 11h12
A ‘diaba’ e o santo? O público do ‘BBB’ é maniqueísta
A ‘diaba’ e o santo? O público do ‘BBB’ é maniqueísta
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Em 1920, o psicólogo americano Edward Thorndike batizou de ‘efeito halo’ a tendência de o cérebro tirar uma conclusão apressada e radical a respeito de uma pessoa ou situação a partir de uma única característica dominante.

Ao desconsiderar outras peculiaridades temos um reducionismo equivocado e perigoso. Um exemplo prático: deduzir que uma pessoa bem-vestida seria mais confiável do que alguém com roupas simples.

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Outra situação: um candidato com beleza padrão (a tal ‘boa aparência’) seria mais capacitado intelectualmente do que um postulante com estética comum.

Esse conceito – uma armadilha cerebral, na verdade – pode ter levado muitos telespectadores a aplicar o maniqueísmo na interpretação de Jade e Arthur, protagonistas do ‘BBB22’.

A influencer que tinha despertado a estima do público no início do reality passou, de repente, a ser a encarnação da arrogância devido a gestos, declarações e atitudes em sua cruzada contra o galã.

A maioria dos fãs do programa alimenta uma visão extremista a respeito dela, sem considerar as subjetividades. “Jade é uma cobra, ponto final”, decretam, cegamente.

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Do outro lado, paira sobre Arthur um olhar piedoso estimulado pela ideia de que ele é um guerreiro solitário a lutar contra tudo e todos. Virou o baluarte da ética e coerência. Um Davi diante do Golias de minissaia, cabelos longos e olhos verdes.

O mocinho sensual injustiçado foi abraçado por aqueles que definem Jade tão somente por defeitos que, na verdade, são qualidades: a obstinação pela vitória, o aliciamento de aliados, a articulação pela sobrevivência no jogo e a coragem de desafiar o rival cara a cara.

Ambos são grandes jogadores. A diferença está na maturidade e inteligência emocional. Arthur se sobressai pela articulação e usa a frieza como vantagem. Escolhe cada palavra, mexe no tabuleiro sem estardalhaço, não desrespeita a oponente.

A influencer peca pela verborragia e a impulsividade. Provoca, debocha, esfrega autoconfiança na fuça do inimigo. Não disfarça o que sente nem tenta passar a imagem de humilde. Pelo contrário, exala presunção. Hipersensíveis, os telespectadores se sentem ultrajados. “Quem ela pensa que é?”

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Haveria traços de machismo no ódio coletivo contra Jade? Talvez. Rico Melquiades fez bem pior – humilhar os adversários e instalar o caos eram seus passatempos preferidos – e venceu ‘A Fazenda 13’, em dezembro, sem ter seu método contestado.

O histórico do ‘BBB’ mostra que o público não costuma apoiar sisters assumidamente jogadoras. Basta lembrar de Lia (‘BBB10’), Talula (‘BBB11’) e Viih Tube (‘BBB21’). Apesar do talento para manipular, atacar e se defender, foram eliminadas sem dó antes da final.

Além da hipotética influência do ‘efeito halo’, outro elemento é determinante para a permanência no reality show e o possível triunfo. O carisma.

Trata-se de uma intrigante habilidade inata. A pessoa pode até forjá-la, porém, não consegue sustentar por muito tempo. Jade não segurou a personagem simpática. Arthur é um poço de carisma.

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