O autoisolamento de Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, desde a derrota nas urnas, mantém o suspense a respeito da renovação da concessão da TV Globo.
Duas semanas antes do 1º turno, a direção da empresa fez a solicitação oficial ao Ministério das Comunicações para nova outorga a seus 5 canais próprios, em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Recife.
O Sala de TV apurou que os técnicos da pasta não encontraram nenhuma irregularidade capaz de inviabilizar a renovação à Globo por mais 15 anos, conforme prevê a lei.
Críticos da líder no Ibope, especialmente os bolsonaristas, propagam que a emissora da família Marinho possui "dívidas bilionárias" com o governo, um impeditivo para continuar a transmitir.
A informação passada ao blog é de que as pendências da Globo se referem a impostos não recolhidos e débitos com a Previdência Social.
A quantia não chega nem perto à casa do bilhão de reais. Parte foi negociada diretamente com o Estado e outra fração teve decisão judicial favorável ao canal.
Bolsonaro foi comunicado não haver argumento legal para negar a renovação da concessão. As alegações ideológicas — como o hipotético conteúdo impróprio à família tradicional — não valem para basear sua decisão.
Desde antes de assumir o mandato, em 2019, o presidente lançou avisos à Globo sobre o rigor do processo. "Se não estiver direitinho, não renovo", disse, repetidamente.
Na prática, a sanção ou o veto do presidente não tem valor definitivo. A palavra final é do Congresso Nacional, que em votação pode contrariá-lo.
A Globo acertou na estratégia de protocolar o pedido de nova concessão às vésperas da ida às urnas. Bolsonaro estava tão absorvido pela campanha à reeleição que não deu importância ao assunto.
Com sua derrota na eleição, ele se encontra em situação delicada. Se assinar o decreto em benefício à emissora vai desagradar a seus discípulos que gritam "Globo lixo" nos protestos e criam inúteis boicotes ao canal.
O recorrente discurso contra a "perseguição" que ele diz sofrer da grande mídia ficaria enfraquecido.
Se negar a outorga, Bolsonaro poderá ser desmoralizado por deliberação contrária do Congresso ou, pior ainda, que o arqui-inimigo Lula anule seu decreto assim que assumir a Presidência.
Foi o petista quem, em abril de 2008, assinou a concessão expirada em 5 de outubro. Após anos de animosidade, vive fase 'paz e amor' com a Globo. O jornalismo da emissora está flagrantemente entusiasmado com Lula e sua mulher, a socióloga Janja.
Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come. O que fará Bolsonaro?
Segundo jornalistas que transitam pelos Poderes em Brasília, o presidente poderá ignonar a questão até o término do mandato. Assim, comprometeria menos seu capital político.
Dizem ainda que, se ele tivesse ganhado a eleição, a Globo teria um grave problema.
A ação combinada de Bolsonaro com o Congresso contra a emissora do clã Marinho levaria uma provável negativa da concessão à Justiça.
Em resumo, é zero a chance de a Globo ser tirada do ar no atual ambiente democrático.