“É fundamental que o ator acredite em seu personagem e contribua para a encenação... Para arrebatar uma plateia é preciso que ela veja vida, e não algo morno.”
A frase dita por aquele que é considerado o maior ator de todos os tempos, o inglês Laurence Olivier (1907-1989), define o que se assistiu ao final do capítulo de segunda-feira (22) de ‘O Outro Lado do Paraíso’.
Após semanas de convivência sem reconhecer a própria filha, Duda (Gloria Pires) enfim descobre que aquela jovem sensível e impetuosa que se dedica sobremaneira a inocentá-la no tribunal é a menina a quem foi obrigada a abandonar.
Ao ouvir o nome completo da advogada – Adriana Montserrat (Julia Dalavia) –, a dona de bordel, que assumiu um crime não cometido para salvar a outra filha que deixou para trás, Clara (Bianca Bin), se reencontra com parte de seu passado.
A cena – introdução de longa sequência a ser exibida hoje – foi marcada por olhares profundos e música instrumental no lugar de palavras.
O autor Walcyr Carrasco, criticado por às vezes ser exageradamente didático e verborrágico, demonstrou destreza ao compor a tão aguardada revelação com minimalismo dramatúrgico.
Enquanto acompanha Adriana caminhar até o centro do tribunal, Duda desconstrói a personagem que criou para sobreviver a tanto sofrimento durante anos.
Parece quase hipnotizada diante da filha prodigiosa. Gloria Pires não precisa de nenhum recurso especial para transmitir uma overdose de emoção: basta olhar – e como são expressivos os olhos de uma atriz totalmente entregue ao seu ofício.
São em momentos assim, de profundidade artística e beleza estética, que a teledramaturgia ressalta seu valor e reafirma-se como o mais popular meio de entretenimento de um País de 207 milhões de pessoas.
Não é à toa que o brasileiro foi, é e sempre será apaixonado por novela. Os bons folhetins espelham como somos, o que pensamos e aquilo que sentimos.
Obras que nos tiram do lugar-comum, da letargia, do cotidiano cinzento para proporcionar uma experiência emocional.
Ao telespectador que se permite participar desse fenômeno, a novela injeta ainda mais humanidade.
Torna-o capaz de sentir o mesmo que uma personagem fictícia. A partir daí, cada um lida individualmente com os afetos represados e as feridas da alma. É a vida real tocada por um produto audiovisual.
No caso de Duda e Adriana, o autor manipula um extrato eficiente para emocionar até quem odeia novela: o amor incondicional de uma mãe por um filho. Como ignorar tal representação tão convincente?
‘O Outro Lado do Paraíso’ apresenta alguma irregularidade, mas os bons momentos sobrepõem os deslizes. Nenhuma novela é perfeita, assim como está longe da perfeição a história de vida de cada um de nós.
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