Na noite de domingo (30), William Bonner demonstrou leveza após meses da mais tensa cobertura eleitoral desde que se tornou titular na bancada do 'Jornal Nacional', em 1996.
Ao longo da campanha, o jornalista se viu em manchetes quando virou alvo de críticas e ironias da parte de Jair Bolsonaro e aliados da direita.
Considerado pelo atual presidente como seu maior inimigo na mídia, Bonner enfrentou uma onda de hostilidade na internet nos últimos 3 anos. Chegou a se queixar em entrevista ao 'Conversa com Bial'.
“Eu ainda me assusto com a bile, com o ódio que escorre nas palavras, nas palavras mal escritas, nas palavras cuspidas. É um ódio tão intenso que a gente não sabe onde levará. E aí a gente vai para as ruas e assiste a esta mesma incivilidade."
Não é possível afirmar que o âncora do 'JN' torceu por Lula e agora se sente aliviado com a chegada do petista à Presidência para o terceiro mandato.
Mas quem o viu na Globo percebeu um Bonner descontraído, que se permitiu fazer brincadeiras ao vivo.
Elogiou a memória prodigiosa de Lo Prete, disse ser privilegiado por trabalhar com duas talentosas Renatas (a outra, Vasconcellos, é sua parceira no 'JN') e até repercutiu os memes de que teria aberto uma lata de cerveja no estúdio para festejar a vitória de Lula (ou a derrota de Bolsonaro, se preferir). Era apenas água com gás.
Divertiu-se ao exibir seu conhecimento sobre as ruas de São Paulo durante a narração do deslocamento de Lula após a confirmação da eleição.
Ao comentar a imagem da multidão cercando o carro do petista, fez uma menção afetiva. "Meu falecido pai diria 'tá duro de gente'."
O médico William Bonemer morreu em novembro de 2016. Ele teve a memória atacada na web, para tristeza de Bonner, que reclamou de tamanha desumanidade.
O jornalista ainda fez questão de exprimir sua confiança nas urnas eletrônicas e no TSE. "Quem duvida, precisa de médico."
Ao ver Lula no trio-elétrico na Av. Paulista, o jornalista soltou uma graça. "Esse fotógrafo não larga do pé do Lula", disse, referindo-se a Ricardo Stuckert, responsável pelas imagens oficiais do petista.
O apresentador foi carinhoso ao falar da atenção do presidente eleito a quem o cumprimentava.
"Lula vem saltitando. Lula sendo Lula. É a forma como se comporta em multidões. Ele tem sempre o abraço, o afago, é o que ele gosta de fazer, sempre foi assim."
A falha no áudio incentivou o jornalista a uma nova ironia. "Você imagina a correria que está lá dentro (do trio). 'Cadê o som do microfone?' O Brasil quer ouvir", afirmou. "É muita gente, muita gente emocionada."
O jornalista e o político, após um longo período de tensão, iniciado ainda no governo de Dilma Rousseff, agora estão em paz.
Em agosto, na sabatina no 'JN', Lula foi surpreendido com uma declaração de Bonner. "O senhor não deve nada à Justiça."
Depois disso, o líder de esquerda elogiou o antigo desafeto algumas vezes. "Bonner foi decente comigo", declarou.
"A voz aveludada do Bonner anunciando o próximo presidente do Brasil traz a sensação da volta da normalidade", postou o usuário @lleandro_santt no Twitter.
Quanto tempo a trégua vai durar? Só o tempo dirá.