Emmy faz justiça ao indicar atriz trans de ‘Pose’, mas...

Premiação deveria ter nomeado uma segunda artista transexual da boa série sobre negros, latinos e o início da Aids

14 jul 2021 - 11h37

De várias injustiças do Emmy nos últimos anos, uma foi reparada com a indicação de Mj Rodriguez como Melhor Atriz de Série Dramática. Ela interpreta Blanca em ‘Pose’, veterana dos bailes de competição de dança e matriarca de um clã de excluídos em uma Nova York nada glamourosa.

Mj Rodriguez como Blanca e Dominique Jackson na pele de Elektra: show de atuação e militância antitransfóbica
Mj Rodriguez como Blanca e Dominique Jackson na pele de Elektra: show de atuação e militância antitransfóbica
Foto: FX/Divulgação (Fotomontagem: Blog Sala de TV)

A edição 2021 da maior premiação da televisão brasileira, marcada para 19 de setembro, poderia ter incluído Dominique Jackson entre as indicadas a Melhor Coadjuvante. Sua performance como Elektra, oscilando entre a comédia e o drama, merece adjetivos e troféus.

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Tanto Mj como Dominique são mulheres transexuais, assim como suas personagens. Ambas negras de origem latina. A presença delas em ‘Pose’ pisoteia (com salto alto, of course) a transfobia na TV e alarga o caminho aberto por atrizes igualmente trans como Laverne Cox (‘Orange is the New Black’), Tracy Lyssette (‘Transparent’) e Jamie Clayton (‘Sense8’).

Primeira transexual a concorrer na categoria principal do Emmy, Mj Rodriguez merecia ter sido nomeada em 2019, pela primeira temporada de ‘Pose’. Ou no ano passado, pela segunda. Os protestos na imprensa e nas redes sociais pela esnobada fizeram o comitê do Emmy indicá-la agora, pelo desempenho na terceira e última temporada da série. Antes tarde do que nunca.

Mj injeta overdose de humanidade em Blanca. A líder da Casa Evangelista luta por seus filhos postiços enquanto ela própria tenta sobreviver ao HIV. A personagem se divide entre o amor e a morte iminente, a coragem e o medo. ‘Pose’ retrata o assustador começo da epidemia de Aids nos anos 1980 e avança pela década seguinte, também marcada por muitas mortes de infectados e o estigma contra a comunidade LGBT+.

Com o fim da série, os atores têm o desafio de conseguir novos papéis relevantes. Os afroamericanos cis, héteros ou gays, ganham vantagem. Já as atrizes transexuais enfrentarão obstáculo maior. Muitos produtores resistem a escalar uma trans para interpretar uma mulher cis e as personagens transexuais ainda são raridade no universo das séries, seja na TV ou no streaming. O ideal de diversidade sexual e representatividade está longe de ser alcançado.

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As duas primeiras temporadas de ‘Pose’ estão disponíveis na Netflix.

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